O conceito de “melhor idade”
Inicialmente, peço desculpas pela franqueza das minhas palavras, mas aqui entre nós, esse negócio de “melhor idade” funciona bem para profissionais de marketing, agências de viagem, lares de idosos e geriatras de plantão.
Em geral, desconheço alguém que deseje envelhecer por livre e espontânea vontade e não me lembro de ninguém que tenha comemorado feliz e radiante a chegada dos 80, dos 70 ou mesmo dos 60 anos.
Eu acabei de fazer 60 anos e agradeço todos os dias por ter chegado com saúde e bem-disposto para os próximos 60. Eu sempre olho para trás com a sensação do dever cumprido, mas fica sempre aquela ideia de que poderia ter feito mais.
O conceito de “melhor idade” ou “terceira idade” é utilizado para se referir ao período da vida após a idade adulta e antes da velhice avançada, geralmente a partir dos 60 anos. É uma fase em que as pessoas podem desfrutar de mais tempo livre e aproveitar melhor a vida, já que muitos aspectos da vida profissional e familiar já foram consolidados.
Essa fase pode ser vista como uma oportunidade para explorar novos interesses, desenvolver novas habilidades, viajar e se envolver em atividades que antes não eram possíveis. Além disso, muitas pessoas na “melhor idade” desfrutam de um maior senso de liberdade, independência e sabedoria acumulada ao longo da vida.
No entanto, devo lembrar que cada pessoa tem a sua própria experiência ao envelhecer, e que nem todas as pessoas nessa fase se encaixam no conceito de “melhor idade”. Algumas podem enfrentar desafios físicos e mentais, ou ainda estar em situações de vulnerabilidade, como é o caso do meu pai.
Nesse sentido, é importante que a sociedade como um todo ofereça suporte e recursos adequados para garantir que todas as pessoas possam desfrutar de uma vida plena e saudável em qualquer fase da vida, algo que não me parece tão simples aqui no Brasil.
Devo comemorar a chegada da “melhor idade”?
De modo geral, há pouco para ser comemorado a partir daquilo que os especialistas chamam de melhor idade. Se dependesse de mim, eu estacionava pelos 60, com a vitalidade dos 20 e a cabeça dos 40, mas a realidade é o que ela é, e a natureza segue seu curso.
Na verdade, os filhos promovem a festa para reunir os amigos e amenizar um pouco a tristeza do passar dos anos. Essa é uma condição imposta pela natureza a contragosto. Nosso consolo é o fato de estarmos todos na mesma condição.
Dá pra comemorar? Quando se pensa em “melhor idade”, a fase geralmente é associada a coisas como: tendinite, bursite, labirintite, Alzheimer, Parkinson, dor na coluna, pés gelados, dentadura, asilo, previdência, farmácia, remédios, aposentadoria, invalidez, mau humor, impaciência, velhice. E tem ainda a mais cruel de todas as doenças: a solidão.
É difícil encontrar alguém que queira chegar mais rápido na “melhor idade”? Homens e mulheres tendem a retardar ao máximo o passar dos anos. A cada ano, o Brasil bate recordes e mais recordes de procedimentos cirúrgicos realizados por pessoas que gastam fortunas para retardar a chegada da “melhor idade”.
Se é de fato a “melhor idade”, por que as pessoas ainda escondem a idade e tentam prolongar a juventude? Todos sabem que “melhor idade” requer uma longa preparação e, na maioria das vezes, só se dão conta quando não dá mais tempo de se preparar.
Dessa forma, os males da “melhor idade” e da velhice avançadas são inevitáveis. Por essas e outras razões, é comum as pessoas afirmarem que fulano ou ciclano “partiu desta para melhor”.
O preconceito com a “melhor idade”
A “melhor idade” costuma atingir também o mais alto nível de discriminação. Filhos começam a ficar incomodados, parentes começam a sugerir a melhor “casa de repouso” da cidade e amigos já não parecem os mesmos amigos do passado.
Nas ruas, motoristas aceleram de forma violenta assim que você coloca o pé no primeiro degrau do ônibus, alguém com segundas intenções se propõe gentilmente a receber o seu benefício no INSS e a sua companhia já não é tão agradável quanto era na fase adulta.
Com o tempo, a cabeça da “melhor idade” já não reúne forças suficientes para enfrentar os dissabores de uma sociedade influenciável, preconceituosa e seletiva.
Quantos anúncios de emprego você encontrou nos últimos tempos com a seguinte chamada: exclusivo para pessoas da melhor idade, ótima remuneração, excelente carteira de benefícios e amplas possibilidades de crescimento na empresa?
Se você não estiver no patamar dos profissionais bem-posicionados e dos que se prepararam física e financeiramente para a chegada da “melhor idade”, desejo muito que você tenha construído, no mínimo, uma boa base familiar.
A “melhor idade” começa na solidez da família
A construção de uma família sólida e a formação de um bom círculo de relacionamentos pode amenizar a dor do envelhecimento. Envelhecer com sabedoria deve ser a grande meta do ser humano a partir dos 40 ou 50 anos; porém, infelizmente, isso ninguém ensina.
Ao contrário do que muitos esperam, “melhor idade” significa correr desesperadamente atrás do prejuízo. A maioria faz isso quando não dá mais tempo de retardar o processo de envelhecimento acelerado que a sociedade insiste em chamar de “melhor idade”.
Penso que nenhuma constituição do mundo será capaz de amenizar a dor do envelhecimento, para a qual não estamos preparados; portanto, não espere que o governo resolva o problema, que os filhos arrumem um cantinho pra você na velhice ou que a sociedade se compadeça da sua dor.
Se as pessoas são, por natureza, competitivas, discriminadoras, impulsivas e potencialmente influenciadas pelos pensamentos alheios, temos de educar nossos filhos para fazer o contrário, uma vez todos vão enfrentar o mesmo problema.
Durante a melhor fase da nossa existência, acreditamos que a velhice é problema dos velhos e que o nosso tempo ainda está longe.
Como pensar a “melhor idade”
Melhor idade é aquela em que o ser humano não desperdiça tempo com coisas banais, discussões infrutíferas, relacionamentos infelizes, ausências prolongadas e distanciamento dos amigos. Esse tempo é irrecuperável.
Melhor idade é aquela que o tempo não apaga e que, por alguma razão, deixamos de aproveitar tão bem quanto deveríamos. Melhor idade é o único tempo pelo qual haveremos de morrer sentindo saudades.
Melhor idade é aquela em que você consegue lembrar em detalhes, com alegria ou tristeza, e que serviram de aprendizado para o seu crescimento pessoal e profissional.
Melhor idade é aquela que você aproveita em companhia dos filhos, netos e bisnetos, não por que você é idoso ou coisa que o valha, mas porque você plantou boas sementes no passado e hoje está colhendo os frutos.
Melhor idade é aquela em que você consegue acionar o controle remoto, caminhar tranquilo, descascar uma laranja, tomar banho, segurar o garfo e limpar a própria bunda sem depender de ninguém, seja qual for a sua idade.
Como se preparar para chegar bem na “melhor idade”
- Cuide da saúde física: a manutenção de uma boa saúde física é fundamental para uma vida plena e ativa na “melhor idade”. Isso inclui exercícios regulares, uma alimentação saudável, check-ups médicos regulares, controle de doenças crônicas e hábitos saudáveis, como evitar fumar e beber em excesso.
- Cuide da saúde mental: a saúde mental também é importante, e é fundamental para a qualidade de vida na “melhor idade”. As pessoas podem se preparar para isso ao manter conexões sociais, aprender novas habilidades e desenvolver hobbies, e buscar ajuda profissional se necessário.
- Planeje a aposentadoria: pode ser um período de grande mudança e ajuste, portanto, é importante planejar financeiramente e emocionalmente para essa fase. Isso inclui garantir que há recursos suficientes para atender às necessidades financeiras e pensar em como manter uma vida significativa e ativa na aposentadoria.
- Explore novos interesses: a “melhor idade” pode ser uma oportunidade para explorar novos interesses, hobbies e atividades. As pessoas podem começar a fazer cursos, experimentar novos esportes ou atividades físicas, ou ainda aprender uma nova língua ou instrumento musical; portanto, mantenha-se ativo.
- Envolva-se com a comunidade: Participar da comunidade pode ser uma fonte de conexão, apoio e significado na “melhor idade”. As pessoas podem se voluntariar em organizações locais, participar de grupos sociais ou religiosos, ou ainda se envolver em atividades cívicas e políticas.
- Cultive relacionamentos saudáveis: relacionamentos saudáveis e significativos são importantes em todas as fases da vida, e isso é especialmente verdadeiro na “melhor idade”. As pessoas podem cultivar esses relacionamentos mantendo contato com amigos e familiares, participando de grupos sociais e comunitários e praticando a comunicação clara e honesta.
- Planeje viagens e experiências: eis uma ótima oportunidade para viajar e experimentar novas culturas e lugares. Você pode se preparar para isso planejando viagens com antecedência, escolhendo destinos que atendam às suas necessidades e interesses, e pesquisando sobre as melhores maneiras de viajar de forma segura e confortável.
Envelhecer é inevitável, mas a escolha de como envelhecer é nossa. Escolha viver uma vida ativa, saudável e significativa, e aproveite ao máximo cada momento da sua “melhor idade”. Ninguém escapa dessa fase, então, viva da melhor maneira possível e agradeça todos os dias.
Por fim, lembre-se: quanto maior o seu nível de compreensão e de tolerância com as esquisitices alheias, maior a aceitação da sua personalidade na “melhor idade”. E como diria um grande amigo meu, cuidar dos mais velhos é investir no futuro.
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