O que você vai ser quando crescer?
Essa é uma pergunta para a qual eu gostaria de ter a resposta na ponta da língua há mais 30 anos, quando a ouvi pela primeira vez. Aos 10 ou 12 anos dificilmente você sabe a resposta, embora improvise uma para impressionar os colegas. Se soubesse na época, tudo seria mais fácil, mas o tempo não dá saltos.
Na prática, até os 20 ou 25 anos você faz pouca ideia de onde quer chegar. Conheço algumas pessoas com mais de 50 que ainda não descobriram e outras que nunca vão descobrir, mas isso não importa. Cada um faz o seu caminho.
Por conta disso, o ser humano vai levando a vida, tateando aqui e ali, como se diz na minha terra, até encontrar um porto seguro onde possa ancorar o navio a fim de se livrar das tempestades.
Acontece que as coisas não são tão simples assim. Navios parados não pegam peixes nem transportam cargas e ainda por cima depreciam. De uma forma ou de outra, a natureza cobra sua parte e você precisa se mexer, se quiser continuar sobrevivendo.
Aos 15 anos de idade eu fazia poesias para impressionar as meninas da minha cidade e, vez por outra, escolha uma vítima para receber os meus versos setissílabos, escritos em português impecável e inteiramente rimados.
Na época, como eu era bom de escrita, tirava notas altas em português e adorava um concurso de redação, aproveitava essa habilidade para descolar um elogio feminino e, quem sabe, ainda uma paquera das meninas mais cobiçadas da cidade.
Acontece que as coisas não são tão simples assim. As meninas adoravam os meus poemas, mas deixavam o autor em segundo plano. Dessa forma, passei a receber encomendas de poesias já que uma mostrava para a outra e cada uma que lia queria algo parecido.
Na época eu fui gostando da ideia, embora isso me tomasse um tempo danado. Contudo, minha intenção era arranjar uma namorada e quanto mais eu pensava nisso, mais escrevia. Além do mais, eu adorava escrever.
Certo dia eu tive um insight e pensei que poderia ganhar dinheiro com isso. Passei então a escrever poemas em versos alexandrinos, comecei a estudar poesia, comprei livros e passei a escrever desesperadamente, na esperança de reunir material suficiente para publicar o meu primeiro livro.
Animado com a ideia e tentando sobreviver ao mesmo tempo, pois comecei a trabalhar com quinze anos e tinha de estudar à noite, comentei que o meu sonho era ser escritor ou um poeta. Eu tinha tudo para seguir em frente, mas a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse.
Alguém me disse com todas as letras que um escritor nunca desejaria ter ouvido: você está louco, rapaz, quer morrer de fome? Você já viu algum escritor rico ou bem de vida? Vá ser engenheiro, médico ou advogado. Aquilo foi uma verdadeira ducha de água gelada. De imediato, quase que abandonei a ideia.
Assim o tempo foi passando, as coisas foram mudando e o sonho acabou morrendo dentro de mim. Fiz escola técnica, não consegui passar no vestibular para Engenharia e acabei me cursando Administração de Empresas, profissão que aprendi a amar e respeitar com o tempo e a experiência.
Quando você decide o que vai ser quando crescer
Foram necessários mais de 20 anos para eu conseguir retomar a minha veia literária, embora ela tenha se manifestado por caminhos mais íngremes e pouco recompensadores. Foi a maneira que eu encontrei para tentar recuperar o tempo perdido e compartilhar os meus 25 anos de experiência profissional em empresas de médio e grande porte.
A literatura de negócios é um campo extremamente competitivo onde poucos fazem barulho com o apoio da mídia e muitos se viram ganhando dinheiro com o apoio de ninguém, mas é um campo gratificante. De uma forma ou de outra, a literatura abre portas.
Por que é que estou lhe contando tudo isso? Existem coisas pelas quais passamos e que apenas o tempo é capaz de corrigir, mas que dependem muito do comportamento e das nossas atitudes, considerando que o ser humano é altamente influenciável.
Se as pessoas tivessem a mínima noção do impacto que algumas palavras e ações provocam nas outras, certamente tomariam mais cuidado ao oferecer conselhos inúteis que são capazes de afetar uma trajetória de vida.
Quando alguém se dirigir a você, seja filho, sobrinho, filho do vizinho ou filho do seu melhor amigo, e disser que pretende ser escritor, biólogo, professor, pedagogo, oceanógrafo ou algo semelhante, jamais cometa o erro de dizer que isso ou aquilo não é bom para ele.
Ninguém sabe o que é bom para os outros. Na maioria das vezes em que vacilou na carreira, nem mesmo sabia o que era bom para você, portanto, em vez de palpitar, recolha-se, reflita, incentive, utilize o método socrático dos prós e contras, mas nunca roube o sonho de alguém.
Há muito tempo atrás, quando alguém lhe perguntou “o que você vai ser quando crescer”, esteja certo de que o estímulo – otimista ou pessimista – que se seguiu logo depois da sua resposta foi determinante para chegar até onde você chegou.
O que você vai ser quando crescer? A melhor resposta para essa pergunta pode valer milhões de reais, felicidade para muitos e um futuro melhor para a humanidade. É simples assim!
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