Modelos mentais: conceito e formação
Quando pergunto aos meus alunos em sala de aula ou em treinamentos o que isso significa, alguns me olham apreensivos e outros demoram a se manifestar. A pergunta é minha e eu sempre procuro extrair a resposta de acordo com o conhecimento geral do grupo.
Quando você entende o conceito e procura associá-lo na prática, a jornada torna-se menos dolorosa, entretanto, poucos estão acostumados ao termo. Entender as bases do comportamento humano e as chaves da realização pessoal depende de entender o significado e a importância dos modelos mentais em sua vida.
Segundo Fredy Kofman, autor do livro Metamanagement, o modelo mental é o conjunto de sentidos, pressupostos, regras de raciocínio, inferências etc. que nos leva a fazer determinada interpretação. Eles definem como percebemos, sentimos, pensamos e interagimos.
Na prática, modelos mentais são representações internas que as pessoas criam em suas mentes para compreender e explicar o mundo ao seu redor. São uma espécie de mapa mental ou estrutura conceitual que usamos para organizar, interpretar e responder a informações e experiências.
Os modelos mentais podem ser conscientes ou inconscientes, e podem afetar nossas percepções, comportamentos e decisões. Eles podem ser úteis para ajudar-nos a entender o mundo e tomar decisões efetivas, mas também podem ser limitantes se forem baseados em informações incorretas, percepções equivocadas e preconceitos.
Fontes dos modelos mentais
Esses modelos são construídos a partir de nossas crenças, valores, conhecimentos prévios e experiências pessoais, e podem ser influenciados por fatores sociais, culturais e educacionais.
De acordo com Daniel Goleman, autor do bestseller Inteligência Emocional, as fontes dos modelos mentais são a maneira pela qual os seres humanos organizam e dão sentido às suas experiências.
Goleman sustenta que o comportamento humano é condicionado por modelos mentais e estes, por sua vez, são definidos com base em quatro pressupostos:
Biologia: rotular a capacidade de realização do ser humano com base nas suas limitações fisiológicas. Será que o fato de alguém ser alto ou baixo, branco ou negro, cabeludo ou calvo, gordo ou magro, bonito ou menos favorecido em termos de beleza deve ser um fator de inclusão ou exclusão no mercado de trabalho?
Para muitas empresas, é assim que funciona, infelizmente. Você já leu algum anúncio de emprego no jornal com os seguintes dizeres: precisa-se de Secretária gordinha, baixinha, aparência mais ou menos e de inteligência mediana?
Linguagem: é o meio no qual se estrutura a consciência do ser humano. Quando você ouve um nordestino, um catarinense, um gaúcho dos pampas, um paulista do interior ou um carioca descolado conversando com aquele sotaque típico da sua região, o que lhe vem à mente? Não diga que você nunca rotulou alguém por conta do seu sotaque? Viiiixe! Mas, baaah!!!
Cultura: dentro de qualquer grupo – famílias, indústrias, organizações e nações – os modelos mentais coletivos se desenvolvem com base em experiências compartilhadas. Assim, a cultura pode ser considerada um modelo mental coletivo.
Se você é filho de judeu, italiano, grego, alemão ou japonês, não importa, existe um conjunto de valores ou pressupostos típicos de cada cultura. De alguma forma, isso afeta os relacionamentos, daí as dificuldades de se admitir em algumas culturas a união de pessoas de raízes diferentes.
História pessoal: diz respeito à raça, sexo, nacionalidade, origem étnica, condição econômica e social, influências familiares, nível de educação, a maneira como fomos tratados por nossos pais, irmãos, professores e companheiros de infância.
A maneira como começamos a trabalhar e alcançamos a autossuficiência também é fruto da nossa história pessoal e isso é determinante para o nosso sucesso.
Exemplos de modelos mentais negativos (crenças irracionais)
Por conta de tudo isso, algumas frases acabam tornando-se comuns no seu dia a dia e quando você menos espera, comete um deslize, sem a mínima preocupação com o reflexo das suas palavras.
O que vale para determinado país ou cultura não vale necessariamente para outra. Por acaso você já proferiu qualquer uma dessas frases:
- Todos os políticos são iguais! Incluindo aquele seu parente que se elegeu com muito esforço e arranjou emprego para toda a sua família que estava em dificuldades.
- O pouco com Deus é bastante! Acredite, se isto for verdade, o máximo que você vai conseguir é pouco, além de continuar invejando os ricos pelo resto da vida.
- Isso não vai dar certo, aqui sempre foi assim! Esse é um dos modelos mentais mais conhecidos em organizações fadadas ao fracassos.
- Todos os homens são iguais! Significa que o seu pai e aquela pessoa que você tanto admira também são.
- Não se pode confiar nas mulheres! Inclusive na sua mãe, na sua esposa e nas suas irmãs.
- Não se mexe em time que está ganhando! O Felipão nem ligou quando excluiu o Romário da Copa de 2002 e o Brasil voltou campeão.
- Sou pobre, mas sou feliz! Você conhece algum pobre, no sentido literal da palavra, feliz? Até existe, mas o conceito de pobreza, em geral, remete à tristeza
- O importante é ganhar! Mais importante do que ganhar é contribuir e não se deixar abater pela derrota. Se o mundo fosse feito apenas de vencedores, o aprendizado não existiria.
Esses são alguns dentre os milhares de modelos mentais negativos estabelecidos com base em nossa biologia, linguagem, cultura e experiência pessoal. Quando levados ao pé-da-letra, são capazes de provocar verdadeiros estragos em nossa vida pessoal e profissional.
Contudo, não se deve ignorá-los, apenas tome cuidado para evitar prejulgamentos concebidos com base apenas em valores que podem fazer parte de uma cultura e não de outra.
Exemplos de modelos mentais positivos (crenças racionais ou positivas)
Existem muitos exemplos de modelos mentais positivos que podem ajudar a melhorar a qualidade de vida e o bem-estar emocional de uma pessoa. Vejamos algumas competências associadas aos modelos mentais e capazes de gerar modelos mentais positivos:
- Altruísmo: essa é a prática de colocar as necessidades dos outros antes das suas próprias, e ajudar os outros sem esperar nada em troca. Frase típica: ele precisa bem mais do que eu, não me custa nada ajuda.
- Mentalidade de crescimento: esta é a crença de que as habilidades e talentos podem ser desenvolvidos através do esforço e da prática, em vez de serem fixos e imutáveis. Frase padrão: você pode mais do que pode.
- Abundância: essa é a crença de que há recursos suficientes para todos, e que o sucesso de uma pessoa não significa necessariamente a falha de outra. Frase padrão: eu tenho mais do que o necessário.
- Empatia: esta é a habilidade de se colocar no lugar de outra pessoa e entender suas emoções e perspectivas. Frase padrão: eu sei como você se sente e sou solidário contigo.
- Resiliência: esta é a habilidade de se recuperar rapidamente de desafios e adversidades. Frase padrão: eu sei que sou capaz e não vou sossegar enquanto não aprender.
- Mindfulness: essa é a habilidade de estar presente e consciente do momento presente, sem julgamento ou distração.
- Gratidão: esta é a prática de apreciar as coisas boas em sua vida e cultivar uma atitude positiva em relação às experiências e às pessoas. Frase típica: muito obrigado por tudo.
- Pensamento crítico: essa é a habilidade de avaliar e analisar informações de forma objetiva e questionadora. Frase típica: isso pode ficar ainda melhor.
Note que os modelos mentais positivos estão associados a uma frase mais otimista, com viés positivo, algo que demonstra também o grau de confiança e prosperidade da pessoa acostumada a fazer o bem.
Se qual for o modelo mental instituído, a aceitação da diversidade cultura, educacional e social é uma ótima maneira de refinar a percepção e, por consequência, os seus modelos mentais para uma compreensão mais abrangente do mundo ao seu redor.
Todas as culturas têm algo a ensinar sobre o comportamento humano sob diferentes ângulos de visão, basta saber respeitá-las. Essa máxima judaica expressada no Talmude ajuda a compreender melhor esse raciocínio: “não vemos as coisas como elas são; vemos as coisas como nós somos”.
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