Hardy e a síndrome do pessimismo
Eu era fã de carteirinha da dupla Lippy e Hardy, na década de 1970, um clássico dos desenhos animados da produtora norteamericana Hanna-Barbera. O desenho foi criado na década de 1960, mas chegou ao Brasil bem mais tarde eu eu tive a felicidade de acompanhar.
Semelhante ao que ocorre na vida pessoal e profissional de muita gente, Lippy e Hardy personificavam o oposto de cada um. Enquanto o simpático leão Lippy representava o otimismo exagerado e nunca desanimava, a hiena Hardy representava o pessimismo, com o seu inesquecível jargão “Oh, céus… Oh, vida… Oh, azar!” E vez por outra, arrematava: isso não vai dar certo!
Em pleno século 21, a hiena ainda inspira seguidores. Em diferentes círculos de relacionamento, vejo que a síndrome de Hardy continua fazendo suas vítimas em todas as faixas de idade. Infelizmente, isso é da natureza de muitas as pessoas, do meio onde viveram, dos castigos recebidos na infância e na pré-adolescência, da forma como foram criadas, enfim, da cultura onde estavam inseridas.
Temos muito mais dos nossos pais do que imaginamos e isso pode ser determinante no comportamento. Existem pessoas que apresentam predisposição ao sofrimento. Nada do que você faça será capaz de livrá-las do pessimismo. Elas gostam de chorar pelos cantos e resmungar a cada solicitação do chefe e dos colegas de trabalho. Uma observação despretensiosa sobre algo que nada tem a ver com elas ou um simples olhar atravessado é tudo o que precisam para se autoproclamarem vítimas de conspiração no trabalho.
Perguntas e observações do tipo “ninguém me ajuda”, “o que é que eu faço”, “por que comigo”, “não tenho sorte”, “ninguém me ama”, “pra mim sobra só o serviço”, “ninguém me chama” e outras centenas de frases infelizes alimentam o ego dos portadores da síndrome de Hardy. Na realidade, eles transferem ou tentam transferir a você o rótulo de inimigo, como se a deficiência fosse sua.
Adeptos da síndrome de Hardy têm dificuldades de admitir que você está sobrecarregado ou tem prioridades a cumprir e, pelo menos naquele momento, não tem como ajudá-lo. Na tentativa de suprir a própria ineficiência, é mais fácil atribuir a culpa aos colegas de trabalho ou ser lamentar na mesa do chefe.
Dessa forma, eles acabam excluindo-se automaticamente do processo e continuam fazendo o que mais gostam de fazer: lamentar-se pelos corredores, a fim de que todos saibam que eles são vítimas de tudo isso, algo comum no funcionalismo público.
Infelizmente, pessoas assim demoram a encontrar o próprio caminho e conviver com elas não é nada fácil. Em geral, elas são vítimas de um processo lento e doloroso de isolamento que ocorre com a maioria das pessoas, e conta com os seguintes ingredientes: ausência de objetivos, falta de foco, baixa autoestima e amor-próprio nulo.
Qualquer ajuda pode ser considerada uma afronta à sua combalida personalidade, mas imagino que existe um remédio certo para a pessoa certa em qualquer síndrome. Pode não resolver o problema, mas, no mínimo, vai fazê-las refletir a respeito.
As empresas, por sua vez, demoram a tomar uma atitude com relação a esse tipo de postura. É um misto de pena e compaixão, considerando que pessoas com essas características desmontam quando algo de ruim lhes acontece. O fato é que empresas e companheiros de trabalho não são obrigados a carregar ninguém nas costas, tampouco conviver com o mau-humor alheio.
Como conviver com gente pessimista
A fim de amenizar o problema, algumas atitudes devem ser tomadas para evitar a contaminação do ambiente e ao mesmo tempo despertar a consciência de quem ainda pensa que é obrigação dos outros suportar a chatice alheia.
Conviver com o problema é questão de opção, a menos que a pessoa seja parente ou então o próprio dono da empresa. Se for esse o caso, não há solução que dê jeito, portanto, quem deve mudar de ares é você. Existem pessoas que não querem receber ajuda, infelizmente, portanto, aqui vão algumas alternativas:
Trate abertamente o problema: não deixe a situação evoluir; como diz o ditado, é de pequeno que se torce o pepino; quanto maior o tempo de tolerância, mais difícil o enquadramento, portanto, nada melhor do que uma boa conversa, olho no olho, para esclarecer expectativas de ambos os lados;
Ofereça ajuda: em alguns casos, a síndrome de Hardy é crônica e vai exigir tratamento; oferecer ajuda é uma atitude digna, entretanto, se não houver um esforço de ordem pessoal, não há chefe nem psicólogo que resolva o problema;
Estabeleça limites: é importante estabelecer limites saudáveis para proteger sua própria saúde mental. Quando as pessoas pessimistas começarem a reclamar ou falar sobre coisas negativas, tente mudar o assunto ou estabelecer um limite de tempo para a conversa. Além disso, certifique-se de reservar um tempo para si mesmo, para se afastar da negatividade e recarregar as energias;
Seja positivo: pessoas pessimistas muitas vezes têm uma visão negativa do mundo, então tente ser a fonte de positividade. Sempre que puder, tente trazer um pouco de otimismo para a conversa. Mas tome cuidado para não minimizar os sentimentos ou preocupações da pessoa pessimista; mantenha o respeito e a empatia.
Acompanhe a evolução: depois de fazer a sua parte, acompanhe o progresso e avalie se os esforços não estão sendo em vão; reposicione a pessoa, se necessário;
O remédio quase infalível: de acordo com Jack Welch, ex-CEO da GE, até um pé no traseiro empurra alguém para frente. Parece grosseiro, mas a demissão pode ser o melhor remédio para recolocar uma pessoa nos trilhos. Minha mãe era mais efetiva e repetia com frequência: continue assim, meu filho, que a vida vai ensiná-lo.
Depois de tentar todas as estratégias possíveis para lidar com uma pessoa pessimista, pode ser que não seja possível mudar sua perspectiva. Nesse caso, é importante lembrar que cada indivíduo tem o direito de ter suas próprias opiniões e visões de mundo.
Você pode optar por se afastar um pouco da pessoa pessimista ou limitar o tempo que passa com ela, para cuidar de sua própria saúde mental e manter a sua visão mas positiva do mundo. Apesar de estarmos no século 21, Hardy ainda existem em todos os lugares e o que não dá é se deixar contaminar por eles.
Lembre-se de que, mesmo que você não consiga mudar a perspectiva da pessoa, é possível manter o respeito mútuo e encontrar maneiras de conviver de forma pacífica e saudável.
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