A demissão é sempre uma questão complicada, tanto para quem demite quanto para aqueles que são demitidos. Não conheço ninguém que tenha feito isso sorrindo ou imaginando que está fazendo um ótimo negócio para a empresa. Conheci um há muitos anos, mas esse era o mestre da sacanagem até o dia em que pagou com a mesma moeda.
Depois de cinquenta anos bem vividos e uma demissão inesquecível, me arrisco a dizer que conheço um pouco dos meandros que permeiam o ambiente corporativo. Eu trabalhei em pequenas, médias e grandes corporações, tanto no papel de empregado quanto no papel de consultor. Já demiti muita gente também, com dor no coração, e não me orgulho disso.
Durante a minha inesquecível jornada como empregado, principalmente nas décadas de 1980 e 1990, eu ficava chocado com a enxurrada de demissões que ocorriam nas empresas por onde passava.
Na década de 1990, conhecida como a década perdida, eu vivi o tal dodownsizing, muito mal interpretado pela minha geração. Segundo Jeremy Rifkin, autor dobestsellerO Fim dos Empregos, mais de 400 milhões de pessoas perderam o meio de sobrevivência na época.
Independentemente das razões apresentadas, aquilo me deixava indignado, pois eu sabia que, em muitos casos, o senso de justiça nem sempre prevalecia e inúmeras demissões eram injustas e dolorosas.
Por outro lado, algumas demissões eram cômicas e tinham pouco a ver com a origem do problema. O fato é que muitas eram inevitáveis e aos poucos eu fui aprendendo a entender melhor e a extrair delas lições que ainda hoje se mostram bastante úteis.
Conheci líderes que nunca tiveram coragem de demitir alguém e outros que simplesmente transferiam o problema pra equipe do RH a fim de evitar confronto com os profissionais para os quais eles nunca foram capazes de prestar um feedbackdecente, por insegurança, medo ou ausência de liderança mesmo.
Demissão é uma questão de prática. Na primeira você chora, esperneia, se deprime um pouco e pensa que o mundo vai acabar. Na segunda você já consegue amortecer melhor a queda e aprende que a dor faz parte do processo. Dificilmente haverá uma terceira. Contudo, a menos que a pessoa seja desprovida de hormônios, toda demissão é dolorosa.
O lado bom da demissão
Demitir e ser demitido são processos delicados que exigem equilíbrio e maturidade de ambos os lados. E, geralmente, essas virtudes nunca estão presentes quando você mais precisa delas.
Algumas demissões são verdadeiros desastres que acabam por destruir a autoestima das pessoas em vez de projetá-las para um futuro melhor, apesar de todas as recomendações e técnicas existentes para amenizar o problema.
No início do ano 2000 eu vivi o período mais difícil da minha vida profissional quando, por determinação da matriz, recebi a notícia de que a minha área seria transferida para outro Estado. Aquilo foi me consumindo aos poucos.
Em menos de três meses eu me vi obrigado a demitir toda a equipe, a qual eu havia dado um duro danado pra consolidar. Éramos praticamente uma “família” que se desmantelou da noite para o dia. Eu era o “paizão” e pouco pude fazer pelos meus “filhos”. Graças ao talento e à incrível capacidade de adaptação do ser humano, todos estão bem, e eu me orgulho disso.
Não é necessário tripudiar as pessoas tampouco mentir ou iludir. Ser simples, direto e justo é a melhor coisa a ser feita embora o processo de demissão dependa muito de como se deu o relacionamento entre líder e empregado ao longo do tempo. Nessa hora, o senso de justiça é fundamental.
Como dizia a mestra Maria Aparecida Schirato, empresa não é mãe. Cada vez que alguém arrisca proferir algo parecido na minha presença, eu tento recolocar a pessoa no lugar. Você se dá conta da realidade quando perde o crachá, o plano de saúde e o vale refeição. A “mãe” não quer mais cuidar de você. Conhece alguma mãe que demite filhos?
A relação entre patrão e empregado é uma relação profissional regida por contrato, com direitos e deveres bem definidos. Se o acordo estiver claro desde o princípio e for norteado por objetivos e metas factíveis, a demissão se torna mais branda no final.
Com o tempo eu aprendi que toda demissão tem o seu lado doce e estimulante. Se você tem consciência do dever cumprido e acreditar piamente na sua capacidade de dar a volta por cima, infinitas possibilidades se abrem.
Eu chorei um rio de lágrimas e voltei pra casa o mais rápido possível quando fui demitido pela primeira e última vez.
Por uma graça divina, fui muito bem recebido e ainda ganhei o melhor dos presentes: o abraço carinhoso da esposa e o sorriso contagiante dos meus filhos.
Se algum dia você vivenciar algo parecido, quer na posição de demitido, quer na posição de cumpridor dessa difícil tarefa, lembre-se das minhas palavras, afinal, eu já passei por isso e me tornei especialista no assunto.
Por experiência própria, posso jurar que você vai sobreviver e sair ainda fortalecido para o próximo desafio. Pense nos amigos e conhecidos que passaram por situação semelhante e avalie o quanto eles evoluíram em todos os sentidos. Acredite, a vida voltará ao normal bem antes do que você imagina.
O que você vai aprender ao ser demitido
Por tudo isso, quero compartilhar algumas lições valiosas e espero que lhe sejam úteis se algum dia precisar delas. Esteja onde estiver, tenha em mente que a concorrência está cada dia mais acirrada, portanto, adversidades fazem parte da vida, para o seu próprio bem.
Não é nada pessoal:pode até ser, mas não leve para o lado pessoal. Em primeiro lugar, porque não ajuda em nada; em segundo, porque você acaba desperdiçando energia vital onde não deve em vez de concentrar esforços na recolocação; em terceiro, porque nada do que você faça vai reverter a situação. Se você tem certeza de que deu o melhor de si, dificilmente saberá o motivo da demissão.
Mantenha a cabeça erguida: lamentar ou falar mal da empresa serve apenas para provocar insegurança nas pessoas que você ama e distanciamento das pessoas que admiram o seu trabalho; o que você menos precisa nesse momento é de ódio, mágoas, raiva, pensamentos e atitudes negativas.
Lucidez e equilíbrio são fundamentais: pare de se demitir mentalmente e sofrer por coisas sobre as quais você não tem controle. Se a demissão for inevitável, considere-a como uma nova oportunidade de apresentar seu talento e energia para quem realmente precisa deles.
Otimismo e sorriso nos lábios: sempre haverá espaço para pessoas que demonstram otimismo diante das adversidades, para quem cultiva o sorriso nos lábios e, acima de tudo, para quem sabe dizer bom dia, por favor e obrigado.
O poder do networking: seja humilde e ousado ao mesmo tempo, restabeleça contato com os amigos e conhecidos e não tenha vergonha de pedir, afinal, pedir não ofende; em vez de enviar currículo direto para o RH, envie para amigos e conhecidos que conhecem alguém do RH ou agende uma visita e proponha-se a entregá-lo pessoalmente.
Concentre-se no futuro:segundo Jack Welch, o executivo que revitalizou a GE, até um pé no traseiro te empurra pra frente, portanto, o futuro é o que importa. Quais são as lições aprendidas com a demissão? Onde você não poderá mais errar? Quais são as habilidades ainda não utilizadas? Quais são as perceptivas na área em que você atua?
Foco, Força e Fé: sem isso, não há currículo nem padrinho que dê jeito. Mantenha o foco, pois como dizia minha avó, é no andar da carruagem que as abóboras se ajeitam. Se você não confia em si mesmo, quem haverá de confiar?
Desperte o espírito empreendedor: será que você deve voltar a ser empregado? Como você pode resgatar aquela ideia adormecida há anos e transformá-la em nova fonte de receita? Existem muitas coisas que podem realizadas a partir do conhecimento, da sua história e da sua maneira de resolver problemas.
Se todos nascem para cumprir uma missão, é melhor que seja num lugar onde haja o mínimo de dignidade e respeito. Portanto, pare de ser demitido e demita-se antes, não apenas da empresa, mas das atividades para as quais você não tem a mínima vocação para exercer.
Segundo Albert Camus, filósofo francês, não existe dignidade quando nosso trabalho não é aceito livremente. Por que insistir em algo que te deixa infeliz?
Existem três experiências na vida pelas quais todos deveriam passar: ser demitido, ser líder ou ser empreendedor e ser síndico. Esta última é um exercício de cidadania. Por conta disso, eu levei quatro processos nas costas, fui ameaçado na porta de casa e meu carro foi riscado várias vezes somente por querer as coisas corretas no condomínio.
Lidar com gente é difícil, mas lidar com gente de má índole é um desafio e tanto, porém, são experiências que só nos fazem crescer. Quando olho para trás e lembro que a demissão me fez bem, que o papel de síndico me fortaleceu e que ser líder valeu mais do que um MBA, eu agradeço aos limões que a vida me ofereceu. O que você aprendeu ao ser demitido (a)?
Olá! Seja muito bem-vindo! Sou Administrador, Coach, Mentor, Professor Universitário para Cursos de MBA e Palestrante com mais de 40 anos de experiência profissional em empresas de médio e grande porte, além de ser…