Você tem amigos no trabalho?
Sério? São amigos de verdade ou colegas de trabalho? Você seria capaz de colocar a mão no fogo por eles? Pense bem!
Agora, tente se colocar do outro lado e responda com sinceridade: seus amigos fariam o mesmo por você? Com quantos amigos você poderá contar se algum dia for demitido da empresa?
Você é capaz de renunciar a uma promoção pelo fato de um amigo ter mais tempo de casa e estar aguardando a mesma oportunidade há mais tempo? Fala sério!
Que tal se oferecer pra ser demitido no lugar do amigo considerando que ele tem família pra sustentar e você ainda está solteiro, sem filhos e em início de carreira?
Você é capaz de ligar no dia seguinte ou na semana seguinte pra oferecer uma palavrinha de conforto ao seu amigo demitido? Quantos amigos vão ligar pra você no dia seguinte à sua demissão?
Quem já passou por essa incrível experiência da demissão, assim como eu, tem uma boa noção do que estou falando. Eu me lembro muito bem de quantas ligações eu recebi logo após a minha primeira e única demissão: duas.
Eu me considerava uma pessoa querida por todos, mas tem muito mais coisa em jogo nisso. Dói muito, e ainda que eu tivesse plena confiança nas minhas habilidades e no meu amplo círculo de relacionamentos, um turbilhão de crenças irracionais me atormentava.
Naquele dia eu me senti um incompetente, um derrotado, apesar dos resultados positivos obtidos no ano anterior, mas em outra News eu conto essa história, uma lição e tanto. Era o primeiro dia após o retorno das férias, por isso doeu ainda mais.
Portanto, se você respondeu SIM para a maioria das questões iniciais, quero muito ser seu amigo. Pelo amor de Deus, me adicione aí, será uma honra.
Reflexões sobre ter amigos no trabalho
Eu passei por várias empresas ao longo da minha carreira profissional e tive o privilégio de conhecer pessoas incríveis. Tive muitos dissabores também, e desafetos aos montes, mas isso faz parte do jogo e, é óbvio, do aprendizado. Quem nunca?
Por mais que a gente seja doutrinado nas escolas, em palestras e treinamentos ou mesmo em sessões de feedback para exercitar a paciência, a resiliência e coisas do tipo, lembre-se: nós somos, acima de tudo, seres humanos, sujeitos a emoções de todos os tipos.
O ser humano, por sua vez, é indissociável. É difícil separar o lado profissional do lado pessoal. Você conhece alguma mãe que sai de casa animada na segunda feira ao deixar o filho em casa com 40 graus de febre nas mãos da babá? Imagine a cena: eu sou profissional, não misturo as coisas, vou trabalhar…
Por outro lado, conhece alguém que saiu do trabalho dando pulos de alegria depois de ter levado um baita esculacho do chefe na frente dos colegas? Que legal, mais uma porrada! Uhuullll!
Há pouco tempo eu assisti uma reportagem sobre amizade no trabalho e confesso que fiquei chocado com tanta hipocrisia. As pessoas se transformam diante das câmeras. Parecia uma verdadeira irmandade. Existe isso?
No mundo competitivo de hoje, ter bons amigos no trabalho é um desafio e tanto ou será que estou tão por fora assim das coisas? A competitividade, a impulsividade, a influência alheia e o preconceito são inerentes ao ser humano.
Agora imagine que você e um amigo tenham iniciado a carreira na mesma empresa e no mesmo dia, na função de auxiliar administrativo, auxiliar de vendas ou algo assim, portanto, no mesmo nível hierárquico.
Com o tempo, ambos foram conquistando novas posições, em datas diferentes. Saíram de auxiliar para assistente, de assistente para analista, de analista para coordenador e logo para gerente, cada um na sua área, porém sob a mesma direção.
Nesse ínterim, vocês construíram um excelente relacionamento, dentro e fora da empresa. Um foi padrinho de casamento do outro e vice-versa. Ambos foram convidados pra ser padrinhos de batismo do primeiro filho de cada um. E dá-lhe churrasco, cinema, fondue (fondi mesmo), caminhadas e viagens juntos.
Durante esse mesmo tempo, ambos se prepararam pra crescer na empresa. Fizeram curso superior, pós-graduação, inglês, MBA, mestrado, coaching, mentoria e ainda tiveram uma experiência internacional, de olho na maior oportunidade de todas: o cargo de direção.
Certo dia, a oportunidade apareceu e você estava contando com ela, entretanto, quem levou a melhor foi o seu amigo, padrinho de casamento e padrinho do seu filho, aquele mesmo que não saía da sua casa.
Você o cumprimenta e deseja a ele toda sorte do mundo, mas a verdade é que ele vai ser o seu líder a partir de agora, justamente no cargo que você tanto desejava. Seja sincero, você ficaria triste ou feliz?
E sabe da maior? O seu amigo foi elevado ao cargo de diretor com a missão de promover uma verdadeira revolução na unidade a fim de reverter os resultados negativos, doa a quem doer, segundo o presidente.
Decorridos trinta dias, desde que o seu amigo foi promovido, você é chamado na sala dele para uma conversa franca:
– É o seguinte, Ricardo (antes era Rica), as coisas não estão boas pro seu lado. Os resultados da sua área foram péssimos no ano passado. Você sabe que mora no meu coração, não sabe? Mas você precisa reagir rápido ou eu vou ter que demiti-lo. Eu gosto muito de você, porém não podemos misturar as coisas.
Você fica pálido, argumenta e lembra, sutilmente, do vínculo que ambos criaram ao longo dos últimos anos, porém o jogo mudou e agora ele é o diretor, tem um cargo e um enorme salário a zelar. Na cabeça do amigo, se alguém tiver que chorar será sua mãe e não a dele.
Acredite, essa é uma história real. Depois de um tempo, pressionado pelo amigo, ambos já não se cumprimentavam como antes, as famílias acabaram se afastando e o relacionamento foi se deteriorando até o dia do juízo final. A demissão foi inevitável.
O que leva uma pessoa a mudar tão rápido? Onde foi parar aquela amizade de tantos anos? Amigos não deveriam proteger e beneficiar amigos? Como amigo, ele não deveria ter feito de tudo para ajudá-lo? Se estivesse no lugar dele, o que você faria?
Por tudo isso, quero compartilhar algumas lições, as quais eu considero essenciais para se evitar expectativas irreais e possíveis frustrações no mundo corporativo. Talvez você tenha uma visão diferente, mas não acredito muito.
Lições importantes sobre ter amigos no trabalho
Vale para líderes, subordinados, patrões e empregados. Vale para todos aqueles que ainda não foram decepcionados por vínculos equivocados de amizade no ambiente de trabalho. Torço para que isso nunca lhe afete, mas é bom refletir a respeito.
1. Não existe amizade verdadeira no trabalho. Você demitiria um amigo? Abriria mão de uma promoção pra ajudar um amigo? Seria capaz de se oferecer pra ser demitido no lugar dele? Teria coragem de intervir na demissão do amigo sob risco de se indispor com o chefe e ainda perder o emprego?
2. O principal interesse das pessoas é por elas próprias. As pessoas estão muito mais interessadas nelas mesmas do que em você, o que faz do ambiente corporativo um campo fértil para a dissimulação, portanto, quando demonstrar interesse por alguém, que seja genuíno.
3. O ser humano só é sincero sozinho, dizia Ralph W. Emerson, o grande pensador norte-americano; na presença de uma segunda pessoa começa a hipocrisia. Embora tenhamos dominado a tecnologia, somos incapazes de dominar nossos instintos mais primitivos e não é por maldade, é por questão de sobrevivência.
4. Não alimente expectativas irreais. As pessoas são o que são e a natureza humana é difícil de ser atendida e entendida, portanto, faça o melhor que puder, sem depender de ninguém. Viva de esforço e de resultados, não de agrados e promessas dos “amigos”.
5. É mais seguro manter a integridade do que a amizade no trabalho. A amizade vai exigir sacrifícios para os quais você não está preparado e, mais dia, menos dia, será colocada à prova. Quando você ocupa um cargo de liderança, algumas pessoas tendem a confundir a relação. Ao misturar os papeis, o líder terá mais dificuldade para manter o controle da situação. Quem não quer ser amigo do chefe?
6. A lei da sobrevivência. Existe sempre alguém disposto a fazer o dobro do que você faz pela metade do que você ganha, portanto, não cultive a doce ilusão de que o amigo vai renunciar ao cargo que você perdeu apenas pra ser solidário contigo. A tristeza de alguns é a alegria de outros.
7. Preserve a sua dignidade. Você pode perder o emprego, o crachá, o cartão de visitas, o vale refeição e o plano de saúde, só não pode perder a sua dignidade ou a sua essência. Tudo isso foi concedido a você de forma temporária, porém, amigos de verdade, haja o que houver, estarão contigo até o fim.
8. A melhor coisa do mundo é ser você mesmo. O nome disso é integridade, portanto, siga aprendendo, cultive relacionamentos saudáveis e dê o melhor de si sem depender de ninguém, mesmo sabendo que algumas pessoas se aproximam do chefe por puro interesse e, acredite, talvez ele goste disso.
Por fim, devo reconhecer, muitos colegas se tornaram meus amigos depois da demissão. Dentro das empresas, às vezes, você descobre os falsos amigos e fora delas, os verdadeiros. Isso não tem preço.
Qual é a sua experiência ou opinião sobre isso?
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