Ideias “de fora” dão certo aqui no Brasil? Se alguém fizer essa pergunta aos empresários bem-sucedidos brasileiros, em especial aos mais antigos, tipo self mande man, é provável que a resposta seja “não”.
Ninguém gosta de afirmar que copiou ou mesmo adaptou uma ideia de “fora”. A maioria prefere elevar a si mesmo e defender o seu negócio como se fosse pioneiro ou como se o fato de adaptar ideias alheias fosse prejudicial à sua imagem.
Os grandes grupos brasileiros, com raríssimas exceções, foram construídos com base nos ensinamentos de Henry Ford, Alfred Sloan (GM), Akio Morita (Sony), Eiji Toyoda (Toyota) e até mesmo Sam Walton, o lendário fundador do Wall Mart. As circunstâncias e o ambiente mudam; os princípios da gestão permanecem os mesmos.
Com ajuda de Frederick Taylor, Joseph Schumpeter, Igor Ansoff, Peter Drucker e Michael Porter, entre outros, grandes companhias internacionais construíram modelos de negócios de sucesso, os quais, sem o menor constrangimento, foram imitados por grandes empresas brasileiras, tais como: TAM, Ambev, Votorantim, O Boticário e até mesmo as Casas Bahia.
Alfred Sloan, por exemplo, o fundador da GM, adotou um dos modelos de negócios mais estudados na história da administração. Qual a razão? Porque, simplesmente, levou a obter resultados espetaculares e, dessa forma, foi adotado por empresas do mundo inteiro. Mais adiante, faltou à GM entender as circunstâncias de um mercado em transformação.
É importante saber que foi Sloan quem começou isso, porém, mais importante ainda é saber que sua ideia, com pequenas adaptações, faz sentido para muitas empresas, afinal, os princípios da gestão são universais e valem para qualquer empresa em qualquer país.
Na prática, não importa se o modelo de negócio é americano, japonês, alemão ou sueco. A principal pergunta é: no ambiente ou nas circunstâncias em que me encontro, o modelo adotado vai me ajudar a obter a máxima eficiência para alcançar os resultados desejados?
Logo após a Segunda Guerra Mundial, a indústria eletroeletrônica e automobilística do Japão copiou valendo os modelos de gestão norte-americanos, porém, foi mais eficiente ao agregar um atributo que foi além da produção em massa, a qualidade total, até então, cuja importância foi ignorado pelos Estados Unidos.
Há mais ou menos vinte e cinco anos, quando eu comecei a trabalhar numa das maiores companhias mundiais de petróleo na época, todo o planejamento da empresa era baseado no modelo de administração estratégica sugerido por Igor Ansoff e Michael Porter, ambos norte-americanos, e óbvio, pioneiros da administração estratégica no mundo.
Poucas empresas brasileiras entendiam o significado e a importância do planejamento estratégico na década de 1980. Algumas não entendem até hoje. Na medida em que a globalização ganhou força e o Governo Collor promoveu a abertura da economia para a vinda de empresas estrangeiras ao Brasil, a competitividade tornou-se mais acirrada e obrigou as empresas a pensarem de forma sistemática em gestão.
Infelizmente, ainda não existe um modelo de “gestão à brasileira”. Torço muito para que isso aconteça em poucos anos, mas ainda estamos presos a uma cultura eminentemente colonialista, impregnada por diferentes culturas não criadoras de modelos de gestão, o que ainda nos faz dependentes dos modelos estrangeiros.
Isso é bom ou ruim? Depende. Modelos de gestão existem para serem copiados, aplicados e aperfeiçoados de acordo com as circunstâncias de cada negócio. Não basta pensar apenas em atributos, ou seja, habilidades, qualidades, virtudes e valores. Isso é importante, mas, não é relevante quando se trata de sobreviver num mercado em permanente mutação.
A máxima de Charles Darwin também vale para os negócios: “não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta” às circunstâncias ou ao ambiente, se preferir. Por essas e outras razões, quando um guru da administração afirma que uma empresa precisa se reinventar, na prática, ele está dizendo o seguinte: “sua empresa precisa se adaptar ao novo ambiente dos negócios”.
Modelos de gestão estratégicos, táticos ou operacionais, tais como: gestão baseada em valor, Matriz BCG, matriz de produto, análise de cenários, ciclo da inovação, fluxo de caixa descontado, custeio baseado em atividades e tantos outros modelos são universais e podem ser adaptados a qualquer segmento de mercado.
Em termos de gestão, pouca coisa mudou nos últimos cinquenta anos. Ferramentas como fluxo de caixa, orçamento, planejamento estratégico, balanço financeiro, matriz SWOT e mapeamento de processos, entre outros, são aplicáveis a qualquer negócio e eficientes na medida em que são levadas a sério.
Gosto muito da filosofia disseminada por John P. Kotter, Professor de Harvard e autor do best seller Liderando Mudança. O livro é um dos meus favoritos quando se trata de gestão e resume bem os princípios universais. Segundo Kotter, e não há como questioná-lo, gestão de negócios resume-se a três perspectivas principais:
Estratégica: nunca se descuide da estratégia, do modelo de negócio, das diretrizes principais como visão, missão e valores, e do posicionamento correto no mercado. Poucas empresas sobrevivem sem uma estratégia convincente e clara.
Financeira: nunca se descuide do fluxo de caixa, do balanço financeiro, da margem de lucro, do controle acirrado das despesas, do monitoramento diário e incansável dos resultados. Nenhuma empresa sobrevive sem resultados.
Recursos Humanos: preocupe-se em construir uma cultura organizacional positiva; esclareça os principais fatores de sucesso; reconheça os funcionários inovadores e de alto desempenho; e, por fim, livre-se dos ineficientes.
Pode-se chamar isso de “feijão com arroz”, ou seja, o básico. Sem o básico não se pode avançar para pratos mais sofisticados. É uma questão de sobrevivência. Ao dominar a lição de casa, com o tempo haverá mais energia e cabeça para pensar em inovação, expansão, internacionalização e outros projetos mais arrojados.
Em princípio, gestão é algo simples. Não existe negócio que não dê resultados, mas, a mão pesada da gestão é imprescindível. As pessoas são mais difíceis. O conhecimento existe e está disponível sob todas as formas nas escolas, nos livros ou mesmo na Internet, entretanto, o comportamento humano nas organizações ainda é digno de tese.
Acredite, os princípios universais da gestão não mudaram, mas alguns líderes insistem em ignorá-los e depois não sabem porque continuam no mesmo lugar.
Pense nisso e empreenda mais e melhor!
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