Os fins justificam os meios: origem da frase
Os fins justificam os meios é uma frase atribuída a Nicolau Maquiavel, mas não há evidências de que ele tenha usado essas palavras exatas em seus escritos.
Essa ideia é frequentemente associada a Maquiavel por conta de sua obra O Príncipe, publicada em 1532. Neste livro, Maquiavel argumenta que um governante deve estar disposto a fazer o que for necessário para manter o poder e garantir a estabilidade do Estado. Isso inclui, se necessário, usar a força, a violência e a crueldade.
No entanto, Maquiavel não defendia ações imorais ou ilegais sem justificativa. Ele acreditava que ações cruéis eram justificadas em situações de extrema necessidade, mas ele também enfatizava que um governante deveria ter um senso de responsabilidade e justiça em relação ao seu povo.
Embora a frase “os fins justificam os meios” seja comumente associada a Maquiavel, ela não é uma citação exata de seus escritos e não expressa completamente suas opiniões sobre o assunto.
Na edição de O Príncipe, comentada por Napoleão Bonaparte, o imperador francês reforça a ideia e diz que, nesse quesito, ele foi mais além do que teria sugerido Maquiavel. A edição comentada por ele vale a pena ser lida.
Famosos que utilizaram essa frase muito bem
Por que alguns líderes são julgados apenas por suas conquistas? Será que suas maldades são o reflexo das suas características como líder? Por que razão as pessoas tendem a esquecer facilmente as falcatruas dos governantes e a desculpar os meios escusos utilizados por eles quando se tornam bem-sucedidos no cargo? É ser um líder bem-sucedido e ético ao mesmo tempo? Você seria capaz de transgredir as regras para alcançar uma posição de destaque na empresa ou na sociedade?
Durante os 23 anos em que Jack Welch representou a liderança da General Electric (GE), o valor da empresa no mercado saltou de 14 bilhões para mais de 400 bilhões de dólares. O fato levou a GE a ser considerada a empresa mais bem-sucedida da América.
Sabe-se também que Welch costumava demitir os dez por cento do quadro de funcionários com pior desempenho a cada ano, de maneira impiedosa; porém isso se tornou irrelevante na história do executivo.
Indiferente aos meios utilizados, Welch também liderou pessoalmente o combate contra a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), na tentativa de evadir-se da responsabilidade pela poluição dos rios Hudson e Housatonic. Segundo a EAP, a GE chegou a despejar quase 500 toneladas de resíduos tóxicos por ano nos rios, ao longo da sua história como CEO da empresa; mas Welch saiu ileso e hoje é venerado no mundo dos negócios.
Lou Gerstner, ex-presidente da IBM de 1993 a 2002, foi o responsável pela guinada da empresa ao mesmo tempo em que empresas do mundo inteiro amargavam prejuízos enormes, decorrentes da globalização. Entretanto, não era tão fácil conviver com Gerstner. Ele acreditava que descansar era um luxo desnecessário e, assim sendo, não deixava que os funcionários da IBM aproveitassem a vida. O que valia para ele valia para os demais.
Em 30 anos de carreira, eu tive o desprazer de trabalhar com chefes parecidos com Jack Welch e Lou Gerstner. Alguns, de fala mansa, eram odiados pelas equipes, porém aclamados pela alta direção da empresa. Apesar de todas as sacanagens cometidas, eles eram perseguidores implacáveis de resultados, a qualquer custo.
Outros não tinham escrúpulos e, como se ouvia pelos corredores, eram capazes de “matar a mãe para não perder uma festa de órfãos”. Felizmente, são tempos passados, porém é algo que a memória não apaga tão facilmente.
O poder proporcionado pela liderança pode ser utilizado para o bem e para o mal. Em cargos de liderança, o que você faz com o poder é outra história. Muitos líderes bem-sucedidos utilizam métodos questionáveis para alcançar seus objetivos, como: manipulação, medo, ataques verbais, intimidação física e moral, mentiras de qualquer natureza e controle excessivo de atitudes e comportamentos. Alguns se tornam parte do folclore corporativo e seus métodos acabam criando seguidores leais e comprometidos, a ponto de você se perguntar: quem está certo ou errado, eu ou ele?
Por outro lado, as empresas gastam milhões ou até mesmo bilhões de reais em treinamento de líderes todos os anos. Executivos e aspirantes a cargos de liderança são encaminhados com frequência para palestras e treinamentos in company, cursos de MBA, seminários, workshops, retiros de fim de semana e aventuras radicais no meio da selva. Na prática, boa parte dos esforços concentrados em treinamento acaba se tornando um desperdício de dinheiro e energia vital.
A questão central é a seguinte: o que você vai fazer quando alcançar o cargo de liderança tão almejado em sua trajetória profissional? Agir com base nos exemplos de Lou Gerstner, Jack Welch, Richard Nixon, Bil Clinton, George Bush ou tentar o caminho utilizado por Abílio Diniz, Mahatma Gandhi, John Kennedy e Alexandre Tadeu Costa? Ao encerrar o mês e o ano, você precisa mesmo conquistar a confiança do grupo e alcançar os resultados almejados pelos acionistas.
Quando mencionei a palavra desprazer há alguns parágrafos, não foi em vão. Penso que existe uma forma diferente de realizar as coisas e extrair resultados sem ter, necessariamente, que se utilizar de métodos antiéticos e questionáveis. Por essa razão, eu continuo acreditando que a liderança é uma arte destinada a poucos privilegiados.
Será que os fins justificam os meios?
Essa é uma questão muito particular que depende da forma como um líder pretende escrever o seu nome na história. Ao longo da minha carreira profissional, eu conheci vários executivos que utilizaram métodos questionáveis e tiveram sucesso; porém alguns de seus sucessores alcançaram resultados ainda melhores, por conta do seu carisma e do seu estilo para lidar com pessoas.
De acordo com o Prof. Stephen P. Robbins, estudioso do comportamento organizacional, a confiança é a pedra fundamental da liderança. Quando se confia no líder, pressupõe-se que a pessoa está no cargo, disposta a assumir riscos junto com a equipe para evitar o desapontamento e ao mesmo tempo o abuso.
Segundo Robbins, as cinco dimensões básicas descritas a seguir fundamentam o conceito de confiança e dizem respeito aos princípios e valores morais e intelectuais do ser humano.
Analise atentamente cada uma delas e lembre-se: você não precisa ser líder para praticar aquilo que deve nortear a sua conduta pessoal e profissional em qualquer empresa. Com relação ao líder, isso é mais do que uma obrigação, é um imperativo. Vejamos:
Abertura: você acredita que os seus liderados depositam confiança total em você?
Integridade: refere-se à honestidade e à confiabilidade. De todas as dimensões, a integridade é a mais crítica na avaliação da confiança despertada por alguém. O seu discurso combina com as suas ações?
Competência: diz respeito às habilidades, conhecimentos técnicos e interpessoais do indivíduo. Você sabe do que está falando? Você dá ouvidos e confia em alguém cujas habilidades você não respeita?
Consistência: diz respeito à segurança, previsibilidade e capacidade de julgamento demonstrada por uma pessoa em situações de conflito; a inconsistência entre as palavras e as ações reduz a confiança.
Lealdade: é a disposição de proteger e defender a outra pessoa; a confiança requer que você possa depender de alguém que não agirá de maneira oportunista.
Por fim, lembre-se: os líderes conseguem o comportamento que demonstram e toleram, afirma Ram Charan, especialista em liderança. Se você utilizar fielmente o termo os fins justificam os meios, talvez consiga excelentes resultados econômico-financeiros, mas pode ter que renunciar à sua integridade.
Pense nisso e seja um líder por excelência!
Quer saber mais? Leia o meu artigo A responsabilidade do líder
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