Dia desses quase fui multado por uma dessas fiscais de estacionamento regulamentado que, em Curitiba, o povo apelidou carinhosamente de “periquitas” por conta do seu uniforme todo verde e facilmente perceptível a um quilômetro de distância. Sem me eximir da culpa, o fato é que a moça estava com um mau humor daqueles e quando a encontrei, como eu também não estava lá nos meus dias, juntou a fome e a vontade de comer.
Ao me aproximar do veículo notei que o auto de infração já havia sido lavrado e, por conta de daqueles cinco minutos que a gente sempre arrisca, o aviso estava lá, devidamente postado sobre o vidro dianteiro. Foi quando me obriguei a iniciar uma verdadeira caçada pelas quadras ao redor a fim de localizar a madame e regularizar a situação antes de levar aquela multa que qualquer prefeito adora aplicar e se deleita ao receber.
Em Curitiba, as “periquitas” crescem diante de um crachá da prefeitura e, geralmente, elas não têm papas na língua, como se diz na gíria, portanto, o melhor a fazer é agir exatamente ao contrário, com educação e paciência. Como não tenho vocação para tentar o jeitinho brasileiro, preferi seguir o protocolo.
A duas quadras do local avistei uma delas e imaginei que deveria ser a mesma, razão pela qual me aproximei, em fila dupla, é óbvio, considerando o caos do trânsito curitibano, e disparei educadamente: por gentileza, preciso regularizar esse auto. Pode ser contigo? Sem a menor cerimônia, ela retrucou em voz alta para todo mundo ouvir: – eu não falo com ninguém em fila dupla!
Naquele momento, minha vontade era pegá-la pelo pescoço, entretanto, considerando uma série de fatores, decidi que o melhor a fazer era procurar uma vaga para estacionar o carro e assim iniciar uma conversa amigável. Para arrematar a conversa, arrisquei um comentário: – imagino que você não deve ter levantado bem hoje! – Isso não é problema seu, respondeu a fiscal. Então, respirei fundo e encerrei a conversa por ali mesmo. Por fim, adquiri aquele maldito bloco inteiro de estacionamento que a prefeitura local empurra na marra, se você quiser se livrar da multa.
O episódio descreve um fato corriqueiro que acontece com centenas de pessoas mal-humoradas que circulam ao nosso redor. Infelizmente, pessoas desse tipo estão presentes em todos os lugares, credos, culturas e religiões. Quando você menos espera, elas surgem do nada e, ao menor sinal de aproximação, tentam fazer com que você se sinta um lixo.
No mundo corporativo não é diferente. Todos os dias deparamo-nos com pessoas cuja marca pessoal é o mau humor, pessoas que não nos cumprimentam na entrada, mas fazem questão de sorrir quando o diretor da empresa está por perto, pessoas que nem se dão ao mínimo trabalho de disfarçar uma noite mal dormida ou a conta bancária no vermelho.
Ninguém é obrigado a viver sorrindo para agradar a opinião alheia. Da mesma forma, ninguém é obrigado a conviver sorrindo com pessoas que não fazem o mínimo esforço para descobrir porque nasceram e para mudar os acontecimentos ao seu redor. Obviamente, todos têm o direito de viver e agir da forma que julgarem mais conveniente, entretanto, ninguém tem o direito de impor esse tipo de comportamento que não combina mais com as regras de boa convivência da nossa sociedade moderna.
Faz muito tempo que eu adotei a prática de expressar com franqueza o meu desconforto em relação ao mau humor das pessoas. Naturalmente, eu respeito uma determinada condição, um determinado momento, uma situação temporária difícil ou de insatisfação, algo que pode acontecer com cada um de nós. Contudo, aceitar passivamente o mau humor de alguém e imaginar que isso deve ser respeitado não é comigo.
Eu tive a felicidade de nunca ter alguém mal-humorado na equipe e se tivesse, provavelmente, não duraria dois ou três meses, tempo suficiente para uma boa conversa ao pé-do-ouvido, realinhamento e substituição, se necessário. Pessoas mal-humoradas contaminam o ambiente, destroem o espírito de equipe e sugam a energia positiva que pode ser canalizada para a obtenção de melhores resultados.
Por experiência própria, penso que todo mau humor tem sua origem, motivo pelo qual quero compartilhar com o antídoto que procurei adotar ao longo da minha carreira profissional em situações semelhantes. Mude sua postura e sua vida mudará radicalmente.
Descubra a fonte do mau humor. Quando se descobre a origem, a abordagem se torna mais fácil, o diagnóstico mais preciso e o remédio mais fácil;
Trate abertamente a questão. Seja objetivo e direto, principalmente em cargos de liderança. Não prorrogue a convivência com a pessoa mal-humorada por mais de dois ou três meses, tempo suficiente para abordar o assunto em particular.
Elimine o problema. Conviver com profissionais mal-humorados, ainda que competentes, é um grande martírio. Se você for o líder e não houver outro jeito, disponibilize-o para o mercado, ajude-o a se encontrar. Se você for subordinado a ele, a escolha é sua, portanto, mude enquanto é tempo. Por outro lado, depois de cinco anos de convivência, talvez você fique tão mal-humorado quanto ele e, então, ambos viverão pacificamente.
Pense nisso e seja feliz!