A web e o culto do amador
Há mais de 15 anos publiquei um artigo na internet com base no bestseller O Culto do Amador, de Andrew Keen, empreendedor pioneiro do Vale do Silício e crítico ferrenho dos males provocados pela Internet em nossa cultura, economia e valores.
Na época, meu artigo recebeu duras críticas, foi passível de fórum no Orkut na e ainda rendeu milhares de visitas a blogs e sites que reproduziram o texto na integra com uma voracidade incomum e o intuito de incitar ainda mais a ignorância coletiva disponível na web.
Como eu disse na época e faço questão de resgatar, qualquer internauta com o mínimo de instrução pode utilizar a internet para publicar o que quiser: autopromoção, ofensas, racismo, difamação, violência, músicas horrendas e textos literalmente copiados descaradamente e publicados em nome de si mesmo.
Somado a isso, existe ainda as críticas mal elaboradas, livros inteiros fotocopiados sem a menor preocupação com direitos autorais, aberrações e discriminação de toda ordem, muitas vezes validados por páginas sensacionalistas que destroem a ordem, o moral e até a vida das pessoas.
Em geral, chega a ser desalentador o fato de sabermos que muitos alunos de hoje orgulham-se de copiar e colar, sem o menor constrangimento, qualquer trabalho solicitado em sala de aula, algo que constitui tripla ofensa: aos pesquisadores e autores de livros, aos professores e aos pais que acreditam que os filhos dão o melhor de si na escola.
Em reportagem veiculada no Programa da National Geografic (canal fechado) sobre a proliferação do conteúdo didático publicado na Internet, foi mencionado que a maioria dos filhos em idade escolar engana os pais com mentiras ingênuas, desmascaradas facilmente quando questionados sobre a origem da pesquisa. Atualmente, o ChatGPT tende a acelerar o processo de copiar e colar.
A maioria dos pais sabe que, durante boa parte do tempo, os filhos estão navegando pelos sites de relacionamento e outras aventuras digitais que, por vezes, terminam em tragédias. Quando isso ocorre, os pais já perderam os filhos para a Internet há tempo e para evitar que tal premissa se confirme, eles acabam não interferindo na privacidade dos filhos. Para muitos, a web ou internet faz o papel do pai e da mãe.
Há pouco tempo li uma entrevista de um pai orgulhoso por saber que o filho de 9 anos tem conta em várias redes sociais e em sites de relacionamento, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Qualquer um fica orgulhoso até que a tragédia acontece. Na mesma reportagem, uma mãe desespera ao narrar o desaparecimento da filha de 16 anos que iniciou um relacionamento pela Internet e ainda não havia sido encontrada.
Todo tipo de aberração pode ser disponibilizado na web para influenciar os seus filhos e os filhos dos seus amigos. Intrigante mesmo é o fato de que milhões de pessoas desperdiçam seu precioso tempo todos os dias para assistir no YouTube tolices que, de alguma maneira, vão preencher o vazio da sua existência.
Afinal, o que poderá acrescentar à sua vida um vídeo com o Mickey irritado correndo atrás de uma criança na Disney, um cachorro sem graça tentando morder o próprio rabo ou um bando de adolescentes espancando a próxima vítima?
O Facebook e o YouTube, por exemplo, não conseguem filtrar a onda de bobagens que se espalha em progressão geométrica e, em alguns casos, apresenta-se inteiramente permissivo.
O lado perverso da web
Ainda que você pense em fazer um trabalho sério, está sempre sujeito a bobagens publicadas por pessoas que mal lhe conhecem e postam enquetes do tipo “você acha que o fulano faria sexo no primeiro encontro?” ou então “você acha que a fulana cederia aos encantos do chefe na primeira semana de trabalho?”.
Quanta tolice acumulada sem a menor preocupação com o fato de a pessoa ser ou não casada ou compromissada. Se considerarmos o fato de que as publicações são realizadas sem autorização, soa no mínimo falta de respeito, mas essa é a internet, democrática por um lado, autocrática, dissimulada e tirana por outro.
Nada mudou nos últimos 20 anos. Por incrível que pareça, podemos fazer pouco contra tudo isso, sob pena de sermos execrados publicamente pelos guardiões de honra ou da libertinagem de plantão na web. Em geral, são uns pobres coitados que não conseguem mais pensar por conta própria, pois estão contaminados com o vírus letal da ausência de discernimento.
O que podemos fazer em relação a tudo isso? Resta-nos a indignação, a manutenção dos valores e a liberdade para protestar, ainda que seja na própria web, razão pela qual mantenho meu site atualizado com centenas de artigos que são espalhados por outras centenas de sites e blogues na Internet.
Como tudo na vida tem dois lados, não é diferente na web. Entre tantas coisas boas existem muitas coisas ruins. O que vai prevalecer nos próximos anos depende muito da sua consciência e do seu discernimento. Quem é que vai ganhar a briga, o bom conteúdo ou o conteúdo de péssima qualidade? Na prática, aquilo que você alimentar.
De minha parte, continuo firme na missão de ajudar as pessoas a se encontrarem interiormente, dentro e fora da web. Aposto na leitura de bons livros, na produção de bom conteúdo e na cumplicidade do meu Mac para continuar escrevendo, contribuindo e estimulando o bom senso e a reflexão, da melhor maneira possível, contra toda essa pandemia digital. Existem muitas coisas boas na web, desde que você saiba filtrá-las.
Sem demagogia, peço a Deus todos os dias para não me perder no caminho, ao contrário de muitas pessoas que são contaminadas e iludidas diariamente por shorts e conteúdo de valor duvidoso na web, sem coragem de enfrentar a própria realidade. Pense nisso e seja um pouco mais feliz!
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