O maior desafio da docência
Minha mãe foi professora do ensino fundamental durante 25 anos. A julgar pelo seu sofrimento diante dos inúmeros desafios da docência, eu nunca tive a certeza de que ela tenha sido feliz na profissão, embora tenha suportado firme até o último dia de trabalho.
Com base nisso, relutei até o penúltimo instante para não cair na mesma armadilha, a de me tornar um professor distante da real vocação. De maneira geral, manter o ânimo perante a triste realidade educacional do Brasil é coisa para gente evoluída, desprovida de ambições materiais.
Como nada na vida acontece por acaso, em 2004 tive a feliz experiência de ser demitido de uma grande corporação nacional. Uma das formas que considerei para retornar ao mundo do trabalho foi ampliar a minha rede de relacionamentos, aceitando o convite para ministrar a recém-criada disciplina de empreendedorismo numa grande universidade.
Na época, eu não tinha a mínima ideia de como me comportar em sala de aula, mas a boa experiência de público e o relacionamento adquirido nos meus dois últimos empregos foi fundamental para manter a confiança.
Quando você está inseguro em relação ao futuro, certas escolhas não fazem muita diferença. Como diria um amigo de longa data, quem tá perdido não caça caminho. Isso é a lei da sobrevivência. O importante é continuar caminhando.
Naquele momento de incerteza e poucas perspectivas, apesar do currículo abarrotado de realizações, as primeiras entrevistas foram pouco animadoras, mas o importante era voltar para o mercado de trabalho.
Na época, a docência não era o meu emprego dos sonhos, mas uma nova porta se abriu. Quando as opções aparecem – e aparecerão muitas vezes – haverá sempre uma escolha. Devo ou não devo ir por essa porta? Que caminho é esse?
Se fosse levar em conta o salário, comparado ao que ganhava no último emprego, e as perspectivas de crescimento, eu teria desistido antes mesmo de conhecer o campus universitário.
Acontece que a vida é bem mais do que isso e o que importa no primeiro momento é vislumbrar uma possibilidade mínima de sucesso. Se existe, deve estar acompanhada de esperança e otimismo.
Durante dois anos e meio eu aguentei firme e honrei meus compromissos na universidade, ganhando apenas para o combustível, mas pensando sempre no futuro. Na universidade eu conheci pessoas de várias empresas, órgãos públicos e outras instituições e isso me abriu novas portas.
Docência é algo tão excitante quanto o vinho, desde que goste de vinho e esteja bem acompanhado, caso contrário, você vai viver de enxaquecas e curativos provocados pelas quedas consecutivas.
Decorridos quase oito anos da minha primeira experiência como docente, não carrego o mínimo senso de arrependimento. Apesar de não ser a mais rentável das profissões, é altamente estimulante, pois exige diferentes competências, além de proporcionar uma ampla base de conhecimento e relacionamentos.
De modo geral, penso que o maior desafio na docência é a pessoa manter o padrão de qualidade naquilo que se propôs, por meio de atualização e motivação, ainda que a baixa remuneração seja humilhante.
O lado bom da docência
Na condição de consultor, professor universitário e treinador de pessoas, posso dizer que melhorei um pouco, embora tenha um longo caminho pela frente. O sucesso na caminhada depende de atualização constante, de relacionamento e, acima de tudo, do sorriso da plateia.
Como diria o meu instrutor de Coaching, a realidade é o que ela é e não o que você gostaria que fosse; portanto, se alguém deseja chegar a algum lugar, deve continuar caminhando com as armas que tem.
Isso é o que Steve Jobs chamava de unir os pontos. Uma breve interrupção na caminhada é apenas um momento para reflexão e ajustes. Mais adiante, os pontos vão se unir outra vez e não há qualquer adversidade que não se transforme em vantagem no futuro.
A oportunidade na docência me deu também a oportunidade de conhecer centenas ou milhares de pessoas que, de alguma forma, contribuíram sobremaneira para o meu desenvolvimento pessoal e profissional. Quantos cursos, livros e outras indicações surgiram daí.
No fim da história, com grande parte dessas pessoas e profissionais, além de se tornarem clientes, ainda foi possível estabelecer um vínculo pessoal e profissional, o qual desejo manter nos próximos 50 anos. Novos vínculos sempre abrem novas portas e ajudam a estabelecer novos elos.
O lado bom da docência é que você pode ir além do conhecimento, do relacionamento e do salário. O dinheiro ajuda? Claro que ajuda, mas, na prática, o que vale mesmo é a chance de abrir uma porta após a outra por meio de milhares de pessoas que cruzam o nosso caminho.
Por outro lado, para um professor medíocre, que se entrega à docência apenas para sobreviver, resta a única esperança: o dia da aposentadoria. Ser professor, em qualquer nível de conhecimento, demanda uma competência não ensinada nas escolas: o encantamento.
E para encantar pessoas na docência, muito mais do que título, método, conhecimento específico e relacionamento, é preciso saber diagnosticar as emoções humanas para aplicar a dose certa de conhecimento, de acordo com as necessidades de cada aprendiz. É simples assim!
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