Quem já não levou uma “babada” daquelas na vida profissional? Ou esculacho, como se diz no Rio? Algumas de ficar tonto ou até perder o rumo diante dos colegas de trabalho? Outras que, de tão bem aplicadas, causaram profundo desconforto e levaram os receptores a uma profunda mudança de comportamento?
O fato é que ninguém escapa de uma babada ao longo da vida. Elas estão presentes na vida pessoal e profissional e assumem formas diversas, nem sempre aceitas dependendo de onde e como são realizadas.
Ao longo de trinta anos de carreira eu já presenciei babadas de todos os tipos e tamanhos. Algumas são históricas e apesar do constrangimento provocado na época em que ocorreram hoje me servem de inspiração e humor durante as minhas aulas e palestras.
Isso não significa concordar com a forma e o momento em que foram praticadas, mas o lado interessante da babada é que depois de algum tempo a gente consegue fazer piadas e rir do episódio. De uma forma ou de outra, uma babada provoca, no mínimo, a reflexão.
O termo é pejorativo, porém bastante utilizado no mundo corporativo atual. Babadas fazem parte do cotidiano das empresas e, em menor ou maior grau, são aplicadas com frequência, principalmente, por chefes inescrupulosos que ainda resistem em pleno século 21 e fazem delas a sua maior arma de guerra.
Como a intensidade da babada depende muito do estado de espírito ou do ângulo de percepção de quem recebe, para alguns o gesto não provoca o menor efeito e para outros pode significar um longo período de insatisfação ou até mesmo de depressão. As reações variam de pessoa para pessoa.
Embora possamos imaginar que algumas pessoas merecem as babadas que recebem e que isso provoque mudanças significativas de comportamento, o problema não está no fato em si, mas na forma, na intensidade e no momento em que ocorrem.
Você já testemunhou uma babada em que a pessoa saiu ilesa, alegre, comemorando o fato de ter sido desmoralizada injustamente diante dos colegas de trabalho ainda que tivesse uma leve culpa?
Nesse sentido, todo mundo tem uma boa história para contar e, apesar de a espécie ter evoluído, o ser humano continua mantendo seus instintos mais primitivos em estado de dormência.
No caso dos insensíveis e inescrupulosos, o instinto maligno se sobressai ao menor sinal de perigo. Eles não são muito diferentes dos animais quando ameaçados ou quando sentem necessidade de abrir o leque de penas para encantar a plateia.
A arte de dar babadas – que não se pode confundir com feedback – é algo que se aprende com o tempo. Em princípio, depende muito do estado de espírito, do momento, do impacto que a ação contrária provocou para levar a babada e, principalmente, da experiência ou da maturidade de quem aplica. Alguns o fazem com a maestria de forma que o receptor é capaz de agradecer pelo fato.
Apesar de os estilos de babadas se tornarem muito particulares, quero compartilhar algumas dicas tanto para quem aplica quanto para quem recebe de vez em quando. Penso que elas são necessárias, entretanto, de maneira diferente do que ocorre na prática, quando são expressas sem a menor consideração pelas pessoas.
Se você não consegue fugir à tentação de aplicar uma babada, saiba pelo menos o que é importante em relação:
Ao momento: cada vez que sentir inclinado a despejar toda sua ira sobre uma pessoa, pergunte a si mesmo se é momento adequado, se pode ser deixado para mais tarde; uma pausa para reflexão sobre o impacto faz toda diferença;
Ao local: escolha um local apropriado; se é para dar show, o mais correto é matricular-se num curso de teatro em vez de praticá-lo no corredor da empresa e diante do público errado;
À forma ou intensidade: a evolução da espécie humana pressupõe o aumento da civilidade, portanto, a abordagem requer habilidade e polidez; se as regras estão claras, houve treinamento, monitoramento efeedback, fica mais fácil abordar o assunto em caso de “pisada na bola”;
Ao progresso: uma “babada” inteligente é aquela que faz a pessoa refletir e amadurecer, ao contrário da inescrupulosa que desmoraliza o processo de desenvolvimento e o nome da instituição que acolheu alguém que não possui o menor tato para lidar com pessoas.
Há muito tempo eu levei uma babada histórica de um diretor para nunca mais esquecer. O fato é que eu pisei na bola. Eu era a única pessoa a quem ele confidenciou uma decisão da matriz que mudaria toda a história do que ocorreu na sequência e eu não fui capaz de segurar a informação. Minha língua solta causou um grande incidente na época.
Apesar do ocorrido, ele foi condescendente comigo. A forma como ele abordou o assunto, de maneira polida e inteligente, me fez pensar durante muito tempo. Minha única alternativa foi pedir desculpas e rezar para não ser demitido, o que não ocorreu, pois ele sabia separar as coisas muito bem. Hoje somos grandes amigos.
Pense nisso e seja feliz!