Uma breve retrospectiva sobre as mulheres de fibra
Numa rápida retrospectiva sobre o universo das mulheres de fibra, cabe lembrar que foi somente a partir da Revolução francesa, em 1789, que elas passaram a atuar na sociedade de forma mais significativa.
Naquela época, a reivindicação era por melhoria das condições de vida e de trabalho, o fim da prostituição, participação mais intensa na política, acesso à instrução e à igualdade de direitos entre os sexos.
Em 1791, a jornalista e ativista revolucionária francesa Olympe de Gouges lançou a famosa Declaração dos Direitos das Mulheres e da Cidadã para reivindicar o direito feminino a todas as dignidades, lugares e empregos públicos segundo suas aptidões.
De acordo com o pensamento de Olympe, se a mulher tinha o direito de subir ao cadafalso, ela poderia subir também à tribuna, uma declaração ousada para a sua época.
A polêmica declaração desafiou a conduta injusta da autoridade masculina e da relação homem-mulher, expressada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão durante a Revolução Francesa.
As consequências dos seus atos foram desastrosas. Em 03 de novembro de 1793, Olympe de Gouges foi julgada, condenada e guilhotinada em Paris, apenas porque “quis ser um homem de estado e esqueceu as virtudes próprias do seu sexo”.
Isso ficou registrado na sua sentença de morte. No mesmo ano, as associações femininas foram proibidas na França. A liberdade feminina foi conquistada com o sangue de muitas mulheres de fibra.
A partir da segunda metade do século 18, a força de trabalho feminina passou a ser absorvida pelas indústrias, não por vontade, mas por absoluta escassez da mão de obra durante o período da Revolução Industrial.
O choque entre os hábitos antigos e os novos provocou uma demanda de tal esforço a ponto de se imaginar que pessoas comuns não seriam capazes de executá-la, porém as mulheres resistiram bravamente.
Desde que começaram a representar um simples papel na sociedade, diferente daquele recomendado e aceito pelo pensamento tradicional, as mulheres passaram por diferentes privações.
Entre as principais delas destacam-se a jornada diária de 17 horas, salários 60% menores do que os percebidos pelos homens, condições de trabalho insalubres, espancamentos e violências sexuais.
O ponto culminante da discriminação feminina ocorreu em 08 de março de 1857, na Fábrica de Tecidos Cotton, em Nova Iorque. Naquele dia, 129 tecelãs cruzaram os braços e paralisaram os trabalhos pelo direito a uma jornada de dez horas, na primeira greve do país conduzida somente por mulheres.
Ao se sentirem acuadas, as operárias refugiaram-se nas dependências da fábrica. No mesmo dia, sem hesitar, os patrões, mancomunados com a polícia de Nova Iorque, trancaram as portas da fábrica e atearam fogo. Todas morreram.
A primeira e justa homenagem
Em 1907, cinquenta anos depois daquele fatídico episódio, a ativista alemã Clara Josephine Zetkin encabeçou a realização do I Congresso de Mulheres Socialistas.
O evento impulsionou definitivamente a participação das mulheres nas questões políticas e contribuiu para as primeiras conquistas da mulher operária.
Em agosto de 1910, por proposição da própria Clara Zetkin na II Conferência Internacional das Mulheres, realizada na Dinamarca, foi aprovada a criação do Dia Internacional da Mulher.
Um ano depois, no mesmo dia, por iniciativa do Secretariado Feminino Internacional, mais de um milhão de mulheres saiu às ruas comemorar a data na Europa e assim o evento é lembrado todos os anos, há mais de 150 anos.
O primeiro Dia Internacional da Mulher foi comemorado em 19 de março de 1911. Posteriormente, a comemoração foi alterada para o dia 08 de março, data que permanece até hoje.
Mais de duzentos anos depois do sacrifício de Olympe de Gouges, o universo feminino se transformou, porém a entrada das mulheres no mercado de trabalho não foi a maravilha que todos imaginam.
A competição desleal com os homens trouxe consequências, por vezes irreversíveis como infelicidade, frieza, estresse, doenças, violência, divórcios aos montes. Por outro lado, trouxe independência e liberdade até então nunca vistas na história da humanidade.
Mulheres de fibra modernas
Conciliar a vida pessoal e profissional é um dos grandes desafios da mulher atual. A maioria enfrenta uma jornada tripla: trabalho, casa e filhos, além da relação conjugal que impõe sobre a mulher uma pressão maior do que a imposta sobre os homens.
Minha mãe era uma mulher de fibra, conforme você já deve ter lido no meu livro Benditas Muletas (Vozes). Criou os filhos com dignidade, praticamente sozinha, estudou para ser professora, enfrentou a pressão e a falta de dinheiro.
Por conta disso, chegou a ser internada num hospital psiquiátrico durante seis meses. Considerando as batalhas que travou e tudo o que a vida lhe reservou, conseguiu resistir bravamente. Eu costumo dizer que ela foi para o céu com tripa e tudo, graças a Deus.
Há muito tempo a prioridade das mulheres de fibra deixou de ser arranjar marido, cuidar da cria e comprar eletrodomésticos. A mulher moderna passa pouco tempo na cozinha, veste terno e calça jeans, dirige o próprio veículo, toma cerveja e produz filhos sem depender dos homens.
Mulheres de fibra arranjam tempo para os filhos considerando que ainda lhe resta o instinto materno. Em milhares de separações litigiosas, as quais ocorrem todos os anos, filhos são o único bem que lhe resta.
Com dinheiro no bolso, uma boa governanta cumpre esse papel com muita propriedade. Na competição acirrada em que se transformou o universo do trabalho, onde as mulheres assumem papeis cada vez mais relevantes.
A hipótese de assumir algumas tarefas de casa também passou a ser considerada interessante pelos homens. Conheço uma porção deles que adoraria ficar em casa sem ter muito com o que se preocupar.
As novas prioridades das mulheres de fibra
Trabalho, beleza e carreira são as novas prioridades da mulher e, até que os homens se rebelem, a ascensão feminina deve orientar as regras com mais vigor, portanto, qualquer tentativa de rebeldia é inútil.
A rebelião masculina é pouco provável, pois, aos poucos, os homens vão entendendo e aceitando as novas regras do jogo e, vez por outra, meio que a contragosto, seguindo ordens.
Como disse o Max Gehringer, num artigo publicado há algum tempo, chegará o dia em que alguém, confortavelmente acomodado na cadeira principal de uma grande corporação, haverá de dizer: esse negócio de competição entre homem e mulher no trabalho é uma grande besteira, vocês não acham? E todos haverão de responder em uníssono: sim, senhora!
Para felicidade geral da nação masculina, existem boas perspectivas pela frente. Segundo pesquisa elaborada pelo Conselho de Famílias Americanas e divulgada pela agência de notícias Associated Press dos Estados Unidos, homens que colaboram mais com a limpeza da casa fazem mais sexo e, portanto, tem um casamento mais feliz.
Levando em consideração a pesquisa, e para mostrar o quanto admiro e torço pelas mulheres de fibra, principalmente a minha, da qual não pretendo me separar nos próximos quarenta anos, aprendi a manusear todos os eletrodomésticos da casa, inclusive o rodo, coisinha chata de lidar.
O aspirador de pó provoca uma dor danada nas costas, mas com um pouco de massagem e bolsa de água quente, juro que passa. Quanto ao manuseio correto da louça, aquela que não vai para a máquina, sou Ph.D. E não reclamo, a gente se acostuma.
Faz tempo que eu deixei de discutir e ter razão dentro de casa, pois começo a concordar com o Luiz Fernando Veríssimo que escreveu o seguinte: o casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a outra é o marido.
É isso! Eis aqui a minha singela homenagem a todas essas mulheres de fibra que não hesitam em buscar o seu lugar ao sol embora ainda tenham um longo caminho pela frente para extirpar a discriminação, o machismo e a violência que ainda persiste nas camadas mais pobres da sociedade.
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