Quando eu era coordenador de atendimento de uma grande empresa multinacional, uma das minhas atribuições era atualizar as informações da unidade no notebook de última geração do diretor, um luxo naquela época. Ele sabia fazer pouca coisa naquele notebook, porém sua especialidade era abrir e fechar planilhas de Excel, além de torrar nossa paciência quando os resultados não eram atingidos. Na época não era nem notebook, era laptop mesmo, mas tudo bem.
Embora eu desejasse atirá-lo com frequência pela janela toda vez que era chamado na sala, aprendi muito com ele, o que fazer e que o não fazer em situações semelhantes. Eu também não entendia muito de planilha Excel, mas, graças ao bom Deus, tinha um colaborador que era muito melhor do que eu nesse sentido e ele dava conta do recado, motivo pelo qual eu me confortava diante do caos. Essa é apenas uma das vantagens de você manter na equipe pessoas melhores do que você, sem medo de ser feliz.
O diretor mantinha em torno de cinqüenta relatórios naquele maldito notebook, todos em Excel, com informações sobre vendas, margens e resultados de cada vendedor, gerente de área, ponto de venda, segmento de negócio, cidade e estado. Cada vez que um vendedor ou gerente aparecia por perto, ele chamava o sujeito e abria o famigerado notebook para testar o camarada. Espontaneamente, ninguém aparecia, mas, em último caso, ele mandava chamar um “Cristo”.
Era tanta informação que ficávamos sempre em dúvida se realmente ele utilizava tudo aquilo. O fato é que ele fazia questão de manter as planilhas em dia, primeiro, para manter o status de ser o único diretor no Brasil com notebook e, segundo, para evitar o dissabor de não ter os dados da unidade quando convocado para uma reunião de ultima hora na matriz.
Certa vez ele me chamou na sala para testar a minha paciência. Era mais ou menos em torno de oito horas da noite, estávamos todos cansados, véspera de aumento de preços, o clima foi pesado durante o dia todo, mas isso não tinha a menor importância para ele.
– Jerônimo, antes de ir embora atualize todos os relatórios do notebook para mim. Devo viajar amanhã cedo e quero esse notebook na minha mesa amanhã cedo antes de sair, entendeu? – Mas chefe, retruquei, são oito horas, são cinqüenta planilhas, leva tempo, importação de dados etc.
– Isso é problema seu! Eu vou para casa assistir o Jornal Nacional e tomar meu uísque, mas você pode ficar aqui durante a noite. Falta ainda quinze horas para o vôo, se vire. Na hora eu me lembrei da janela, da mãe dele e da minha família, mas mantive a calma, afinal ele era pesado e eu não ganhava tão mal assim.
Eu conhecia os principais relatórios analisados por ele, portanto, pedi ao meu colaborador que atualizasse em torno de seis planilhas, as mais importantes, dentre elas a receita e a margem, por área, vendedor e produto, o que levou em torno de duas horas. Durante a noite rezamos para ele não abrir as outras.
No dia seguinte, às oito horas da manhã, lá estava eu com o notebook na sala do diretor e aquela vontade danada de atirá-lo na sua cabeça. – Aqui está chefe, como o senhor pediu. – Muito bom! Esse é o meu garoto! Disse ele, com aquele sorriso hipócrita.
Para tudo na vida existe uma ou mais saídas, portanto, nunca se apavore diante de situações como essa. Mantenha a calma, faça o melhor que puder com o que você tem e o tempo se encarrega do restante.
Pense nisso e seja feliz!