Ilusão da massas: a origem do termo
De acordo com o médico e sociólogo francês, Gustavo Le Bon, autor do magnífico ensaio Psicologia das Multidões, o homem é naturalmente imitativo, semelhante aos animais; a imitação constitui para ele uma necessidade, contanto que essa imitação seja fácil. É que Le Bon definiu como ilusão das massas.
Dessa necessidade nasce a influência da moda, dos tiktokers, dos influencers em geral. Quer se trate de opiniões, ideias, manifestações literárias ou simplesmente de costumes, quem ousa não se submeter ao seu domínio?
Em geral, os grupos, os partidos, as torcidas organizadas e as aglomerações de natureza semelhante são guiados por modelos e não por argumentos. Segundo Le Bon, em cada época, um reduzido número de individualidades imprime sua ação, que a massa inconsciente imita.
Essas individualidades, representadas por políticos corruptos, ditadores da moda, manipuladores do pensamento coletivo, personalidades fabricadas pela mídia e outras nem sempre bem-intencionadas, não se afastam muito das ideias pré-estabelecidas.
Por essas e outras razões, imitá-las seria bem mais difícil e sua influência praticamente nula. Le Bon também sustenta que é exatamente por isso que os homens muito superiores à sua época – pensadores, sociólogos, analistas, críticos em geral – não tem qualquer influência sobre elas.
A distância entre suas ideias e as ideias coletivas é muito grande. Além do mais, não lhes oferece alternativas tão promissoras quanto um visual bem-produzido e um discurso emocionado.
Ilusão das massas e suas consequências
A história tem provado o quão inútil tem sido o enfrentamento do inconsciente coletivo, sensibilizado e mobilizado por discursos populistas e por histórias de superação do desencantamento e da pobreza.
Seria não menos inútil imaginar que a humanidade sobrevive desprovida de esperanças e ilusões sem as quais não pode existir. Qualquer pessoa, do meio artístico, político, religioso ou empresarial, que não ouse prometer o suficiente e, em muitos casos, não saiba dissimular o bastante, será tratado como cidadão comum, indigno da credibilidade alheia.
Infelizmente, o povo não precisa de cidadãos comuns. Precisa de astros, deuses, ídolos e estrelas fabricados da noite para o dia, de personagens capazes de manter suas ilusões políticas, religiosas, econômicas e sociais em pé de igualdade com as suas conquistas.
Apesar de tudo, o desequilíbrio entre os cidadãos comuns e seus ídolos continua abismal, pelo menos em termos econômicos, mas o inconsciente coletivo precisa seguir acreditando em alguma coisa. Por certo, a liberdade de pensamento, a filosofia e a própria história não conseguem oferecer a eles nenhum ideal capaz de cativá-los.
Isso justifica, em parte, a adoração de ídolos fabricados pelo uso das drogas e de políticos corruptos e inescrupulosos que mentem descaradamente. E saber que ainda saem fortalecidos pela massa popular considerando que nada foi provado ou uma simples oração basta para corrigir esse pequeno deslize de alguns milhares de dólares.
Considere ainda os tiranos que sugam seus povos e as nações, enquanto passeiam e discursam impunemente pelas tribunas da ONU; de empresários corruptos que amealham fortunas da noite para o dia, em meio à sonegação fiscal e ao sorriso hipócrita promovido nas colunas sociais.
Napoleão empurrou mais de três milhões de fiéis soldados para a morte com seu ego incontrolável e sua sede de poder. Adolf Hitler induziu uma nação inteira a sacrificar milhares de vidas alheias em nome da supremacia da raça ariana, como se nada valessem. Stalin sacrificou milhões de vidas com a fome, em nome de um regime que fortalecia a ilusão popular, mas lhes tirava o pão. Eles conheciam bem o poder da ilusão das massas.
Diante de tantas evidências que nos desagradam, por vezes é preferível fazer de conta que tudo não passa de um terrível engano ou, quem sabe, admitir que se trate de uma verdadeira conspiração por parte da oposição.
Como dizia Ralph W. Emerson, pensador norteamericano, toda verdade é feia e deselegante. Talvez por essa única razão, o inconsciente coletivo prefira ser iludido de tempos em tempos tornando mestre o seu próprio ilusionista. Talvez por isso qualquer pessoa que tente desiludi-lo acabe se tornando vítima da ignorância alheia e do descrédito.
Note que na maioria dos casos, o povo acaba sacrificando o denunciante e nunca o denunciado; venerando o tirano e não o que se rebelou contra ele; admirando “quem rouba, mas faz” e ignorando por completo quem se arrisca a pronunciar a verdade.
Essa tendência de admirar as pessoas que não conhecemos muito bem não passa de um mero defeito de formação moral e intelectual, que pode ser corrigido, desde que haja reconhecimento do fato e propensão para mudar.
Como diria Le Bon, o juízo, a experiência, a iniciativa e o caráter são as condições de sucesso na vida, e não é nos livros que aprendemos. Quanto mais você se basear em impressões e promessas alheias, maior a submissão e menor a chance de livrar-se da ignorância.
Nossas próprias ideias só se formam através das inúmeras impressões sensíveis recebidas todos os dias em casa, na escola, na rua e no trabalho, de todos os contatos preciosos que fazemos e de todo juízo de valor a que somos submetidos.
Os erros humanos só podem ser corrigidos por meio de conhecimento, experiência e sabedoria, entretanto, ambas são virtudes que demoram mais do que a ansiedade humana é capaz de esperar.
Não tenho a mínima pretensão de bancar o filósofo de fim de semana, ao expressar minha indignação diante da incapacidade humana de contestar os abusos de poder e o surgimento em progressão geométrica dos heróis fabricados em todos os países do mundo.
Torço apenas que você se torne mais seletivo, tenha opinião própria, seja mais crítico em relação à hipocrisia do mundo, pense mais por si mesmo e liberte-se da escravidão imposta pelos discursos inflamados de políticos e influencers sem qualquer base de conhecimento.
Encerro com a máxima de Otto Lara Resende, jornalista e escrito, apenas para reflexão: nascemos todos ignorantes, mas não devemos, necessariamente, morrer assim.
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