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Família: a base de tudo [questão de prioridade]

O custo de construir uma família

De acordo Stephen Kanitz, Administrador e autor do livro Família acima de tudo, colocar a família em primeiro lugar tem um custo com o qual nem todos podem arcar. Implica menos dinheiro, fama e projeção social. Muitos de seus amigos poderão ficar ricos, mais famosos do que você e um dia olhá-lo com desdém.

Essa reflexão é válida, entretanto, vale relembrar o ditado conferido a Spencer W. Kimball, antigo líder da Igreja Mórmon norte-americana: nenhum sucesso na vida compensa o fracasso no lar.

Desde pequeno eu procuro manter profundo respeito pela família e a considero a única instituição capaz de provocar a mudança que queremos ver no mundo. Educação, trabalho, religião e ciência podem contribuir bastante, mas a família sempre foi e continua sendo a base de tudo, embora o modelo tradicional esteja em acelerado processo de mudança.

De um núcleo familiar bem constituído vêm os exemplos, a índole, os valores e princípios, o espírito de equipe, a certeza da acolhida em tempos difíceis e a esperança no futuro. Tudo isso com base em união, reciprocidade e laços puramente afetivos.

Durante muito tempo eu mantive uma espécie de inveja positiva de muitas famílias, que eu adotei como modelo a ser seguido, por conta daquilo que eu não pude ter na infância, e por várias razões que não vale a pena lembrar. Contudo, para resgatar e viver o conceito de família, eu cheguei à conclusão de que a melhor forma de conseguir era valorizando os bons pedaços que sobraram da minha no passado e repensando a maneira de conduzir a vida.

Em tempos de competição desenfreada, culto extremo à individualidade e adoção de valores equivocados, a família acaba relegada a um plano inferior, em nome do sucesso, do lucro e da acumulação de bens a qualquer preço.

Grande parte das pessoas dá a importância devida aos famíliares somente quando perde a sua ou então, em casos extremos, quando precisa voltar para ela, feito o filho pródigo, com uma mão na frente e outra atrás.

O dilema continua atual: se priorizar a família em vez do trabalho, do sucesso e da riqueza, você consegue sobreviver, atingir seus objetivos, manter o círculo de amizades e ser feliz?

A resposta é simples: se você, assim como eu, tem de conciliar família e trabalho, amigos, estudo, carreira ou política, a questão do equilíbrio será colocada em xeque; portanto, é necessário decidir o que é realmente importa na sua vida.

Família: a melhor opção para o caos da sociedade atual

Assim como nas empresas, as crises familiares são inevitáveis. A diferença está no fato de que nas empresas, crises aparentes podem ser superadas com a adoção de medidas duras e impopulares.

Ainda que isso possa custar o seu emprego, as relações empregatícias são bem definidas. Em tempos de crise, as empresas sobrevivem; os empregados, nem sempre. É questão de prioridade.

Considerando certa relação de dependência entre os familiares, as crises podem durar meses, anos ou décadas, até o momento em que você não pode fazer mais nada. É quando você se dá conta de que o filho já está com 18 anos, a filha vai embora de casa e o relacionamento familiar está deteriorado.

Durante todo esse tempo, você sabe mais da vida do seu sócio e dos subordinados do que da sua, afinal, você respirou trabalho, o seu nome é trabalho e sua vida se resume ao trabalho.

Como ressalta Kanitz, você não encontra mais amor nas famílias. Você encontra preocupação, distanciamento, ódio, raiva, compreensão ou mesmo indiferença, mas amor, no sentido literal da palavra, muito pouco.

Amor é um conceito difícil de ser praticado, pois exige renúncia, mudança de prioridade, tempo, dedicação, paciência, desprendimento consciente das coisas materiais e altruísmo.

Equilibrar a vida pessoal e profissional é a chave para o bem-estar do ser humano. Quando você prioriza ou desequilibra qualquer um dos lados, o outro sofre as consequências.

O preço a ser pago para a conquista da fama e do dinheiro tende a ser alto demais, motivo pelo qual muitas pessoas dizem amar seus filhos, cônjuges e entes queridos, mas têm dificuldades de demonstrá-lo na prática.

Entregar-se ao trabalho, sob pretexto de querer o bem da família ou de conseguir tudo o que ela precisa, não se sustenta mais. Bem mais do que conforto, famílias precisam de atenção, carinho e diálogo, algo que exige tempo, canalizado para a obtenção cada vez maior de projeção, glória e bens materiais.

Família:  questão de prioridade

Se as empresas definem bem suas prioridades, por que não deveríamos agir da mesma forma? É questão de escolha, decisão e propósito, que depende exclusivamente de você. Por certo, é uma questão difícil que exige posicionamento claro a respeito do que você quer para o futuro, como membro de família e como profissional.

Nesse sentido, quero compartilhar algumas lições que aprendi ao longo do tempo e procuro praticar na minha vida pessoal e profissional. Naturalmente, em razão da pressão financeira a que somos submetidos, leva tempo para encontrar o equilíbrio entre universos distintos, porém complementares, indissociáveis e importantes para o desenvolvimento do ser humano.

Família ou Trabalho? De modo particular, sou mais pela família, afinal, para onde você corre quando o mundo desaba e as coisas não saem à sua maneira?

Quando você prioriza a família, não precisa se preocupar com isso e ao optar pelo equilíbrio, em vez da ambição desmedida, é possível pensar e respirar tranquilamente em ambos os lados;

Pare de arranjar desculpas: o ser humano atual encontra desculpas para tudo. Dentro do possível, encontre tempo em vez de desculpas e não perca a oportunidade de almoçar em casa com a família. Almoçar com os amigos de trabalho é bom, porém as chances de fazê-lo são bem maiores do que com a família.

Familia a base de tudo
Image by senivpetro on Freepik

De vez em quando, surpreenda a família, chegue mais cedo, leve-a para jantar fora, vá ao cinema, passe no supermercado e apanhe alguns petiscos, faça qualquer coisa para evitar que o diálogo e a alegria do convívio esfriem;

O prazer da sua companhia: não existe nada mais gratificante para a família do que o prazer da sua companhia. Acredite nisso mesmo que, vez por outra, você tenha que levar trabalho para casa e fazê-lo com o filho no colo.

Por outro lado, não existe nada pior do que entregar os filhos para a televisão ou para a Internet, onde os desconhecidos poderão usá-los com instrumento de manipulação, violência, consumo e erotização. Você é um membro da família e não um robô a ser ligado somente no momento em que ela precisa.

Por fim, lembre-se: a menos que você a tenha constituído sob pressão ou por conveniência, a família é que você faz dela, um instrumento de valorização ou instrumento de manipulação da sua vontade.

Talvez por isso, em 1930, Bertrand Russell, filósofo inglês, declarou que o fracasso famíliar em prover satisfação e prazer é uma das principais causas de insatisfação do mundo moderno. Portanto, se esta for a sua opção, seja responsável e persiga o caminho da solidão em vez de sacrificar a felicidade de muitos em benefício exclusivamente pessoal.

De acordo com John Dewey, filósofo e pedagogo norte-americano, você é aquilo que mais valoriza na vida, você é aquilo pelo que está disposto a morrer.

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