Essa tal felicidade não existe?
Este artigo está dividido em duas partes: a primeira é dedicada àqueles que acreditam que, por várias razões, a felicidade não existe; a segunda é dedicada àqueles que conseguem extrair e aproveitar momentos de felicidade com frequência, a despeito de todas as adversidades que enfrentam.
A primeira parte é mais complexa. Diz respeito à maioria da população que se diz infeliz e desafortunada. Este grupo espelha-se na condição alheia e carrega uma tendência quase irreversível de imaginar que os outros sempre estão melhores, são mais favorecidos e nasceram com o traseiro virado para a lua, como se diz na gíria.
Em geral, nada do que lhes acontece é capaz de reverter a percepção de que alguns estão predestinados a passar por provações e privações, enquanto outros são privilegiados pela natureza divina. Segundo minha mãe, tem a ver com o destino, ou seja, aquilo que Deus lhe reservou para que você resista e faça a vida valer a pena.
De minha parte, nunca acreditei muito nesse negócio de destino, mas não discuto. Embora a maioria da população seja desfavorecida pelas condições de vida em que foram criadas ou pela cultura onde estão inseridas, sempre é possível mudar. Não é tão simples, mas para tudo na vida existe uma ou mais saídas.
Lutar contra regimes opressores, condições precárias de vida ou religiões e culturas que tentam impor o modo como você deve se vestir, pensar e comportar-se, é de tirar o sono e a felicidade de qualquer um. E quanto mais você depende da opinião alheia, mais infeliz você se torna.
Felicidade e infelicidade são estados de espírito, que se alternam entre momentos bons e outros nem tanto. Quanto mais nos comparamos e buscamos nos outros aquilo que está dentro de nós, maior o descontentamento. Apesar de o ser humano saber que a infelicidade é prejudicial à saúde, ser vítima dá menos trabalho e chama mais atenção.
Essa tendência humana ao sofrimento, ora por meio do trabalho, ora por meio das escolhas mal realizadas, ora por meio da predestinação (?), é responsável pela infelicidade geral das pessoas e das nações. Lamentavelmente, essa é a condição de vida escolhida pela maioria das pessoas.
Essa tal felicidade existe
A segunda parte também é complexa, entretanto, mais prazerosa, menos desgastante, mais excitante, menos entediante. Diz respeito à felicidade pura e simples, cujo direito é universal e não é uma questão de escolha ou predestinação, como se pensava na Idade Média.
Por qual razão algumas pessoas teriam o direito de ser feliz, enquanto outras estariam condenadas à infelicidade? Seria uma questão de opção, aceitação ou mesmo de predestinação? Será que a questão escolhido ou condenado continua sendo fruto da ignorância coletiva? Não vejo sentido nisso. O único sentido é a busca da felicidade individual e coletiva.
De fato, para que eu e você sejamos felizes não é necessário que o restante da população se torne infeliz. Ao contrário, essa tal felicidade coletiva deveria nortear a felicidade individual. Seria muito egoísmo almejar a própria felicidade sem desejar a felicidade alheia. A minha e a sua felicidade estão intimamente ligadas e são quase que diretamente proporcionais.
O que lhe parece ser essa tal felicidade? Deixe-me explicar de um jeito que talvez você nunca tenha lido nem ouvido falar. Se fosse possível representar graficamente seria bem melhor, mas um dia teremos a oportunidade de nos encontrar e conversar a respeito. A felicidade é construída da seguinte forma:
- Você atinge a maioridade e consegue o primeiro emprego. Felicidade total. Em menos de um mês você leva o primeiro esculacho do chefe na frente dos colegas. O mundo parece vai desabar.
- Seis meses depois você consegue a sua primeira promoção. Felicidade total. Um ano depois a empresa vai à falência e você se vê sem emprego, sem salário e sem direitos. O mundo desaba outra vez.
- Apesar do sofrimento, você supera as dificuldades e monta um negócio por conta própria em sociedade. Felicidade total. Tempos depois você leva um golpe do sócio em que tanto confiava. A infelicidade bate à sua porta mais uma vez.
- Você está começando a entender melhor o conceito de resiliência, volta mais forte, arranja um novo emprego e consegue uma namorada maravilhosa. Felicidade plena. O trabalho vai super bem, mas você dedica tanto tempo a ele que a namorada acaba trocando você por um amigo de faculdade. Ah, essa tal felicidade não é fácil!
Você entendeu o espírito da coisa. Essa tal felicidade é feita de pequenos momentos de alegria e tristeza. O grande problema do ser humano é quando ele concentra energia somente nos momentos de tristeza e infelicidade. É a opção incondicional pelo sofrimento.
O fato é que nunca viveremos a felicidade plena, pois a vida está sempre nos testando de alguma forma. Contudo, quando aprendemos a valorizar e tirar maior proveito muito mais dos momentos de alegria do que dos de tristeza, nosso nível de felicidade aumenta.
Por fim, lembre-se, coisas materiais não vão mudar o seu padrão de infelicidade. Elas provocam uma sensação temporária de prazer. A felicidade é construída através de pequenos momentos memoráveis, valorizados a cada acontecimento.
Na prática, o que importa não são os bens nem os cargos ou o dinheiro que alguém possui no banco; são os frequentes momentos de êxtase, de satisfação, de realização plena que você experimenta ao longo da vida. Pense nisso e seja feliz!
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