Tecnologia: magia e dor de cabeça
Esse artigo foi escrito há mais de 15 anos, porém continua bastante atual.
Você conhece alguém que vive conectado na web? Tem pelo menos dois ou três endereços de e-mail? Possui I-Phone, I-Pad, Mac ou Surface? Vive com o notebook a tiracolo e dorme com ele ligado sobre as cobertas enquanto tenta assistir um filme na Netflix? Participa de reunião sempre com o celular na mão esperando a próxima ligação ou a próxima mensagem? Não vê a hora de chegar ao escritório para entrar no Outlook para ler centenas de e-mails de utilidade duvidosa? Tem espaço garantido no Linkedin, Facebook, Instagram e Twitter? Alguém que conversa contigo sem desgrudar os olhos do micro?
Você é daqueles que entram no carro e nãos se acalmam enquanto não recebem ou faz uma ligação no celular? Fica nervoso quando viaja e não consegue encontrar sinal de wifi para ler os e-mails? Assinou TV a cabo com tripla função: telefone fixo, entretenimento e Internet? Dirige o veículo passando mensagem e atendendo o celular?
Se você respondeu SIM a qualquer uma das perguntas, cuidado! Esse alguém faz parte da tribo dos brinquedinhos eletrônicos, a qual, aos poucos, vai sendo escravizado por ela.
Imagine que há trinta anos vivíamos muito bem sem tudo isso e éramos felizes. Hoje está difícil imaginar o contrário. Como vamos sobreviver sem tudo isso e voltar a ser felizes? Quando voltaremos a dormir oito horas por dia?
Uma das grandes reclamações do mundo corporativo é a falta de tempo para cumprir as tarefas transformam um dia de oito horas em um dia de doze horas, no mínimo.
Entre o tempo de leitura dos e-mails, no período da manhã (entrada) e no período da tarde (saída), são duas horas ou mais de produtividade, sem contar ainda o tempo sacrificado durante o horário de almoço para responder mensagens no LinkedIn e comprar brinquedos eletrônicos na web, depois de uma ampla pesquisa nas redes sociais.
Brinquedos eletrônicos são para isso mesmo. Por exemplo, quando você está em viagem e o chefe liga, você não é obrigado a atender, afinal, na área em que você atua o sinal da operadora é fraco.
Quando você recebe mensagens de cobrança ou um puxão de orelha por e-mail, melhor ainda, você pode antes pensar na resposta e jurar que ainda não tinha lido. Você lembra que o chefe tem aquele maldito sinalizador para saber se você leu ou não o e-mail, então você nem abre, pois é “chumbo grosso” na certa. Posteriormente, depois que o chefe acalmou, a resposta pode ser aquela do tipo “entendido, chefe, estou correndo atrás, ligo mais tarde” enquanto a secretária dele tenta, desesperadamente, fazer contato contigo.
Todos os seus amigos têm celular, notebooks, I-Phone, I-Pad e outras parafernálias eletrônicas. A realidade é dura. O seu filho de quatro ou cinco anos não quer mais saber de bola nem de parquinho nem de carrinho. Ele quer mesmo um celular, primeiro porque os amigos de escola têm, segundo porque sua mãe, a avó dele, conseguiu um empréstimo em consignação no banco e prometeu a ele que daria o celular de presente no aniversário.
Considerando tudo isso, você imagina o seguinte: legal, a despesa não vai sair do meu bolso, pelo menos até chegar a primeira fatura da conta telefônica. E quando chega você se põe a esbravejar, afinal, apenas com torpedinhos e acesso aos jogos online, seu filho conseguiu gastar a modesta quantia de R$ 69,90. Deixa ele, diz a avó, pois o pobrezinho não tem noção de valor. Ainda bem que você tem acesso ao banco digital e já conseguiu cadastrar a conta em débito automático, ou seja, não há como fugir.
Pensando bem, em vez de gastar esse dinheiro todo sem controle, você acha melhor contratar um plano maior, aquele de R$ 99,90, com acesso ilimitado. Você se anima e quando chega à loja da operadora acaba sendo fisgado pelo sorriso daquela atendente, um graça de menina, que o convenceu a contratar o plano familiar, por apenas R$ 399,90 por mês, com direito a quatrocentos minutos de conversa e mais cem torpedos, exceto as ligações à distancia, é óbvio.
Conclusão: mais um compromisso financeiro assumido enquanto o portão da garagem está caindo, o colchão da cama está afundando e a cortina da sala está sofrível. Tudo bem! O que a gente não faz por um filho? Afinal, ele merece ter tudo aquilo que você não teve quando era pequeno.
Interessante! Agora que o seu filho tem celular e até mesmo o seu antigo notebook para se conectar na web, sozinho no quarto, não há tanta necessidade de você brincar nem conversar com ele. Quando for o caso, você pode passar uma mensagem do seu Palm ou mesmo do celular, da cozinha para o quarto: desça filho, o jantar está pronto. Bjus… Papai.
A escravidão da tecnologia
Brincadeiras à parte, isso é apenas uma ideia do que a escravidão dos brinquedos eletrônicos pode fazer com as pessoas. Quanto ao lado financeiro pode-se pode dar um jeito. Quando o lado emocional é afetado e a pessoa acaba se tornando uma verdadeira alienada, o perigo é iminente. Contudo, por conta da pressão no trabalho, poucas pessoas se dão conta da situação. Resultado: insônia, estresse, infarto, isquemia cerebral, isolamento e outros males que afetam a sociedade moderna.
Existe um número razoável de empresas onde a pressão por resultados é assustadora, entretanto, ao circular pelo ambiente, pode-se notar também um número considerável de profissionais entretidos em sites de relacionamentos e outros brinquedinhos, independentemente da pressão. O trabalho pode ficar para depois do expediente normal, mas os amigos na mão.
O fato é que você se apaixonou por aquela apresentação da Apple no lançamento do I-Phone, mas a diferença entre você e ele é de alguns milhões ou bilhões de dólares. Ele ganha para escravizá-lo, mas você não ganha o suficiente para se livrar da escravidão, portanto, o melhor a fazer é repensar a maneira de utilizar os brinquedos eletrônicos.
Dizer que você não vive sem eles é uma desculpa muito simplória. O que fazer com eles, de maneira inteligente, sensata e saudável, é o grande desafio. Quem clica, seus males multiplica, diz o ditado na web.
Acredite, existe vida longe do micro, do celular e da Internet. Uma boa conversa entre amigos, um passeio agradável com a família, um bom livro ou uma boa caminhada ao ar livre provocam efeito mais positivo. Ficar ligado na tela do micro esperando a próxima mensagem é tão prejudicial quanto sair de férias e ligar todos os dias para os colegas de trabalho atrás das novidades.
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