O primeiro emprego a gente nunca esquece
Em primeiro de agosto de 1978 eu consegui o meu primeiro emprego como Auxiliar de Escritório I no antigo Departamento Florestal das Indústrias Klabin do Paraná S.A., uma gigante do ramo industrial papeleiro, em Lagoa, cidade onde morei e trabalhei até os 18 anos.
Meus pais se aposentaram na empresa e tenho uma irmã que trabalhou lá por mais de vinte anos. Na época, quase toda a cidade havia trabalhado na Klabin. Quem não trabalhou teve alguém em casa ou conhece alguém que trabalhou na empresa. Ter a carteira assinada pela maior empregadora da cidade era sinônimo de esperança para muitos.
O primeiro emprego a gente nunca esquece. Aos quinze anos, eu tinha o melhor salário do mundo, ótimo chefe, mesa exclusiva e companheiros inesquecíveis. Eu não reclamava das botas com biqueira de aço nem das broncas inesquecíveis do chefe, verdadeiro paizão.
Dia após dia, eu tinha de me levantar cedo, bater cartão-ponto às 07:36 h, às 12:00 h, às 13:00 h e às 17:36 h. Durante o dia eu me deslocava pelas obras três ou quatro vezes a pé mesmo sabendo que à noite haveria uma jornada cansativa de estudos para cumprir.
O mais importante é que eu tinha crachá, símbolo de dignidade, segurança, status, respeito e um pacote considerável de benefícios para a minha idade. Trabalhar na Klabin aos quinze anos era o sonho de qualquer jovem na época e eu tive esse privilégio.
Quando é hora de mudar
Em 1980 eu fui aprovado no exame da Escola Técnica e pedi demissão, três anos depois de ter sido admitido. Meu primeiro chefe, Sr. Pedro, deu a maior força e datilografou uma carta de referência pra me ajudar na procura de um novo emprego em Curitiba. Meu pai vibrou e muitas pessoas torceram por mim.
Minha mãe se fechou no quarto e chorou só de imaginar que eu não queria ficar pelo menos trinta anos no que ela dizia ser o emprego ideal, entretanto, minha intuição dizia o contrário: oportunidades não surgem por acaso e emprego ideal não vem sem estudo, determinação e novas experiências.
Depois de algum tempo, e com muito jeito para convencê-la, eu deixei o interior pra tentar a sorte na capital paranaense, a exemplo de centenas de jovens que não hesitaram em trocar o conforto casa por uma vida melhor.
Na prática, nunca se sabe quando é hora de mudar. O que muita gente sabe é que, quando as oportunidades aparecem, a melhor coisa a fazer é pular em cima do cavalo e não olhar para trás. Ninguém melhor do que você saberá avaliar e sentir o momento em que a consciência desperta para a mudança.
Enfrentando as adversidades
O sonho de construir uma carreira brilhante e encontrar o verdadeiro eldorado profissional numa cidade grande foi aplacado temporariamente no mesmo instante em que encontrei o primeiro chefe inescrupuloso.
Mais dia, menos dia, todo profissional encontra um superior imediato difícil de se lidar, para o qual o conhecimento técnico nunca é suficiente. Faz parte do aprendizado. Contudo, hoje eu sei mais do que ninguém, por trás das adversidades existem oportunidades disfarçadas.
No auge da minha impetuosidade juvenil, as adversidades sempre me conduziram para ambientes mais promissores e aos poucos eu fui galgando a escada corporativa. Por conta disso, abandonei o meu primeiro emprego na capital paranaense na primeira oportunidade e não hesitei em trocar o segundo, pouco tempo depois.
Em quarenta e quatro anos de história profissional, eu mudei oito vezes de empresa e nunca encontrei o emprego ideal, por uma simples razão: o emprego ideal é aquele onde você está. Em todos os lugares por onde passei, embora o ambiente fosse diferente, e as oportunidades também, a maioria das adversidades era parecida. As pessoas mudam, os problemas não.
Portanto, as adversidades não estão apenas dentro de casa, no trabalho ou nos lugares por onde passamos. A maioria delas está dentro de nós mesmos, por meio das nossas crenças irracionais, dos modelos mentais equivocados, das das nossas incertezas em relação ao futuro que pensamos, queremos e fazemos. É da natureza humana.
Tudo na vida tem um preço, cujo valor é proporcional à quantidade de vida que trocamos por aquilo que desejamos. Adversidades existem para nos fazer crescer. É simples assim!
Como se aproximar do emprego ideal
Cursos, diplomas, treinamentos, apadrinhamentos e aconselhamentos de qualquer natureza não poderão ajudá-lo a encontrar o emprego ideal enquanto você estiver condicionado a associar dinheiro ao sucesso.
O emprego ideal está diretamente relacionado ao gosto pela vida e ao sentido de realização. Dinheiro é consequência natural, fruto do seu trabalho e da sua dedicação. Alguns são mais valorizados do que outros e, nesse aspecto, há uma série de fatores a considerar.
Em geral, são poucos os casos de pessoas dispostas a abrir mão de um bom salário ou de um ótimo cargo para se dedicar a projetos mais nobres e menos rentáveis, porém mais alinhados com a sua vocação original. Não raro, ocorre quando a pessoa já sacrificou parte da vida e da saúde numa corrida desenfreada pelo dinheiro.
A partir do momento em que você toma consciência da importância do trabalho na sua vida, passa a sonhar com o emprego ou a profissão ideal e o desejo é transformado em objetivo ou missão de vida.
Contudo, ainda que você não estabeleça metas para alcançá-lo, por conta própria ou mesmo como empregado, ele permanece no inconsciente, pronto para pressioná-lo ao menor sinal de descontentamento.
Por tudo isso, o emprego ideal depende de uma série de fatores, os quais, apenas o tempo, transformado em experiência de vida, é capaz de proporcionar. É um misto de vocação, preparação e oportunidade. Por essa razão, empregos são transitórios e os objetivos estão sempre além do que já foi alcançado.
Muitas pessoas imaginam que o emprego dos outros é melhor, razão pela qual existe sempre alguém pronto para ocupar o seu lugar, pois, enquanto você está de olho no cargo de alguém, alguém está de olho no seu.
Meu pai trabalhou trinta anos na mesma empresa e não encontrou o emprego ideal, mas tinha orgulho de ter ficado todo esse tempo lá. Eu passei por oito empresas diferentes até encontrar algo que faz sentido, do qual não pretendo me desgrudar até o fim.
Conheço dezenas de profissionais acima dos sessenta anos que ainda não sabem o que fazer da vida, além de outros que continuam esperando a aposentadoria para depois se dedicar ao emprego ideal.
Mudar de emprego não basta, é necessário encontrar-se interiormente, ser menos crítico, mais otimista e menos ansioso. Estabelecer metas, definir prioridades e preparar-se para alcançá-las é apenas uma parte do processo. Encontrar um propósito é o desafio maior.
Quando se sentir ameaçado, desmotivado e infeliz com o cargo que ocupa ou com o salário que recebe, basta comparar o seu momento com o dos demais colegas da sua geração e você verá que a situação talvez não lhe pareça tão ruim.
O primeiro passo indispensável para conseguir o emprego ideal é decidir o que você quer da vida e mais importante do que encontrar o emprego ideal é nunca deixar de persegui-lo. É a melhor maneira de não se acomodar.
Eu agradeço todos os dias por todos os empregos que tive, não me arrependo nem reclamo, até porque isso não me ajudaria em nada. Alguns foram ruins, outros foram melhores, porém todos foram verdadeiras lições de vida. O que conta mesmo é o aprendizado, a contribuição, os exemplos, o legado. Tudo na vida vale a pena… Pense nisso e tenha uma ótima semana!
Como dizia Martin Luther King, dê o primeiro passo com fé. Você não precisa ver toda a escada, apenas suba o primeiro degrau. Pense nisso e seja bem mais feliz!
Quer aprender um pouco mais?
- Leia o meu artigo: As fases da vida profissional
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