A dignidade e o impulso para o ganho
De acordo com o sociólogo Max Weber, autor de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo,
O impulso para o ganho, a persecução do lucro, da maior quantidade possível de dinheiro, não tem, em si mesmo, nada a ver com o capitalismo. Tal impulso existe e sempre existiu entre garçons, médicos, cocheiros, artistas, prostitutas, funcionários desonestos, soldados, nobres, cruzados, apostadores, mendigos etc. Pode-se dizer que tem sido comum a toda sorte e condições humanas em todos os tempos e em todos os países da Terra, sempre que se tenha apresentado a possibilidade objetiva para tanto.
De fato, obter lucro, ganhar a maior quantidade possível de dinheiro, acumular patrimônio, levar vantagem sobre os concorrentes, inimigos, vizinhos ou colegas de trabalho são necessidades e aspirações do ser humano em qualquer lugar do planeta por questões antropológicas muito simples: sobrevivência e segurança.
Contudo, ainda que você consiga acumular uma soma considerável de dinheiro durante os primeiros trinta ou quarenta anos de vida, o apego excessivo ao dinheiro há de lhe tirar o sono durante os próximos cinquenta se a sua fortuna não tiver sido construída com base em princípios, valores e virtudes universais.
A simples sobrevivência custa muito caro. Somos constantemente submetidos ao estresse, à pressão, ao enfrentamento de situações para as quais não estamos preparados. A cobrança é grande e surge de todos os lados: dos filhos, do cônjuge, da sociedade.
Em último caso, vem da nossa própria consciência, por tudo aquilo que pensamos e fazemos de errado e por tudo o que deixamos de fazer correto, se é que existe alguma coisa correta na face da Terra. Quanto ao ganho, os homens são capazes de tudo para sustentá-lo.
Somos criaturas de hábitos, segundo Aristóteles, e à custa de muita pressão acabamos habituados a não resistir, a calar-se diante dos fatos, a imaginar que o mundo é como é porque não existe jeito de mudá-lo e que a vida é uma sucessão de erros e acertos que só termina quando a nossa própria existência terrena termina.
Tudo na vida tem um preço
O trabalho sempre foi a mola propulsora do desenvolvimento humano, ou seja, não existe homem sem o trabalho nem trabalho sem o homem. A eterna preocupação do ser humano com o ato de participar, por questão de sobrevivência, e realização, faz com que a maioria dos homens prefira a escravidão na segurança ao risco na independência, segundo Emmanuel Mounier, o pai do Personalismo.
A pressão no trabalho é praticamente irreversível e atinge todos os escalões da organização. Do porteiro ao presidente, a preocupação é a mesma. O que muda é o saldo na conta bancária e o nível de responsabilidade, porém, quanto maior o cargo, maior o orgulho e, por vezes, maior a queda.
No início das minhas palestras eu sempre faço uma breve pesquisa para saber quantos participantes estão felizes com o que fazem. Nunca comprovei um resultado superior a 50% de satisfação, sinal de que a maioria das pessoas está infeliz e, de alguma forma, encontra-se no lugar errado, na empresa errada ou no cargo errado.
A tecnologia e o conforto do mundo moderno, ao menos até aquele momento, não foram capazes de eliminar a eterna carência do ser humano nem a pressão constante das empresas por lucros e mais lucros.
Ganhar dinheiro é bom e necessário, mas o lucro deve representar um mínimo de dignidade. Lamentavelmente, em nome do lucro, a pressão torna-se o instrumento preferido dos líderes, dos acionistas, dos donos em geral como se isso fosse algo normal que qualquer profissional tem a obrigação de aceitar, afinal, quantos milhares dariam a vida para estar ali no lugar dele?
Em pleno século 21, enquanto micro-ondas faz sucesso na cozinha, a panela de pressão continua fazendo sucesso nas organizações, principalmente nas sociedades anônimas onde os donos são praticamente desconhecidos e o que conta mesmo é o valor das ações.
Medo, insegurança, necessidade e responsabilidade acima de tudo afetam o moral dos profissionais que aceitam todo tipo de pressão enquanto não conseguem livrar-se das amarras do poder.
Quem não estiver contente pode escolher entre ir embora e mudar de emprego. Em nome do lucro, tudo é permitido: pressão, humilhação, desvarios, rompantes, demissões, assédio moral, altos e baixos dos acionistas, da sociedade e dos líderes despreparados.
Milhares de reais investidos em treinamento não são suficientes para aplacar a voracidade do capital, ao contrário, são investidos para a multiplicação do capital, portanto, as perspectivas de redução da pressão são pouco animadoras ainda que você mude de chefe, de emprego, de empresa ou de cidade.
A pressão no mundo dos negócios é inevitável e alguns se arriscam a dizer que isso é bom, porém depende do lado em que você se encontra. Por trás de tanta pressão existe a depressão, aliás, uma é reflexo da outra.
Por consequência, pressão gera depressão, o mal do século 21, e apesar das recentes tentativas de melhoria do ambiente de trabalho através de treinamento, palestras, ginástica laboral e outros artifícios utilizados, a realidade é cruel. Em geral, você é impelido a pensar diferente, basta ler uma revista de negócios e a impressão que se dá é a de que todo mundo está bem, menos você.
Dignidade no trabalho
Segundo Albert Camus, filósofo francês, não existe dignidade no trabalho quando nosso trabalho não é aceito livremente, portanto, para evitar que você se torne a próxima vítima da pressão seguida de uma profunda depressão em nome do lucro, algumas atitudes são fundamentais para quebrar a ansiedade e reduzir a pressão imposta sobre seus ombros. Avalie e reflita.
- O mundo corporativo sobrevive sem você, portanto, trabalhe duro, mas não seja refém do trabalho; contribuir e fazer mais do que o normal não significa sujeitar-se à escravidão imposta pelo mercado ou pela incompetência superior.
- Nunca demonstre fraqueza diante da pressão; cultive brio e amor próprio, seja mais forte do que ela e imagine que é apenas uma condição transitória.
- Mude de emprego quantas vezes for necessário; apesar de não resolver o problema, novas perspectivas se abrem quando você se propõe a mudar e acreditar num ambiente mais digno.
- Sorria, apesar de tudo. Sorrir descaradamente ameniza a pressão, fortalece o moral e reduz as chances de se tornar um deprimido comum.
Por fim, lembre-se: não há dinheiro no mundo que pague o ar de felicidade da família quando você entra em casa contente, disposto e sorridente depois de mais um dia extenuante de trabalho. Isso é dignidade. Pense nisso e seja bem mais feliz!
Quer saber mais? Leia o meu artigo Como aumentar a sua motivação na vida e no trabalho
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