Dia desses encontrei um ex-colega de trabalho, integrante da minha equipe nos áureos tempos em que eu exercia o comando da central de atendimento numa grande companhia multinacional. Enquanto eu tentava lembrar-me de onde eu conhecia o sujeito, ele antecipou-se ao meu desespero e repetiu os versos que acompanhavam todas as mensagens que eu disparava para alertar as equipes sobre mudanças na política de vendas, promoção de produtos etc.
Na verdade, trabalhamos apenas seis meses juntos, entretanto, você não faz idéia de quanta diferença provoca na vida de alguém até o momento em que o encontra novamente e tem uma agradável surpresa. “Ah, se eu pudesse escolher, e dela sobreviver, de corpo e alma diria: eu prefiro a poesia!” Faz mais de dez anos que não nos encontramos, mas nunca esqueci os seus versos e as suas mensagens diárias de fé e otimismo, alternadas entre uma brincadeira e um aconselhamento – advertiu o colega com um largo sorriso na face.
Fiquei lisonjeado e ao mesmo tempo incomodado por não lembrar o seu nome, mas aprendi há muito tempo que a humildade é uma arte indispensável em momentos como esse. Perdoe, mas não lembro o seu nome. Identificadas as partes, seguimos adiante. Você me disse naquela época que tudo na vida é uma questão de escolha e de tanto eu ler aqueles versos, dia após dia, tomei coragem e procurei seguir outro caminho, no qual estou até hoje, muito feliz, graças a Deus, e também aos seus conselhos. Ouvi atento, agradeci e sorri. Conversamos longamente, trocamos cartões e restabelecemos o contato, mais um para o meu networking.
Faz mais de vinte anos que eu escrevi o poema onde se encontram esses versos citados pelo colega. Não gosto muito de olhar para trás, mas a essência da mensagem ainda me persegue. Talvez esteja tentando me dizer algo. Escolher é difícil. Sobreviver ou morrer de fome? Pintura ou escultura? Patrão ou empregado? Com leite ou sem leite? Administração ou Contabilidade? Carreira ou família? Amor ou trabalho? Empresa pública ou empresa privada? Casar ou juntar os trapos?
Todas essas questões nos obrigam a tomar decisões capazes de moldar o nosso futuro. Por sua vez, toda decisão apresenta um elevado grau de dificuldade, o qual não pode ser ignorado, pois, a partir dela, você sofrerá as consequências, positivas ou negativas, resultantes da sua escolha. Por outro lado, errar e acertar faz parte de um complexo sistema de desenvolvimento pessoal e profissional que vale para todos os seres humanos. Raramente, você acertará todas. Dificilmente, você errará todas. A questão é simples: como acertar a maior quantidade possível de escolhas e decisões tomadas?
Há quase trinta anos eu tomei a difícil decisão de não mais escrever, pois me disseram que literatura não enche barriga. Na época, eu deixei de praticar algo que gostava para me dedicar aos estudos, apesar de ter vencido vários concursos de redação e de poesia. Por alguma razão, eu coloquei na cabeça que isso não me levaria a lugar algum. Entretanto, por uma razão ainda mais forte, há pouco mais de dez anos eu retomei o gosto pela escrita em geral, decisão que me levou á publicação de quatro livros aprovados por grandes editoras.
Isso me faz comprovar uma simples teoria: decisões podem ser tomadas com base em emoções, porém somente as emoções provocadas por um desejo inequívoco de autorrealização produzem resultados efetivos e duradouros. Penso nisso cada vez que olho para trás e vejo o quanto eu poderia estar mais adiantado, mas me consolo e sigo adiante ao lembrar um antigo provérbio repetido com frequência por um amigo: o tempo não dá saltos.
Todas as coisas são insignificantes, porém é necessário fazê-las, afirmava Mahatma Gandhi, o grande líder espiritual indiano, razão pela qual eu procuro não ficar imaginando se teria sido bom ou ruim de outra forma. As coisas são como são e lamentar o passado não muda a história, entretanto, com base nele, é possível reconstruir o futuro. Existem especialistas em lamentar o passado e, sinceramente, não desejo esse mal para ninguém. Se eu pudesse escolher, o mundo seria menos violento, o ambiente de trabalho mais tolerante, os relacionamentos mais saudáveis e as amizades mais duradouras.
Se eu pudesse escolher, viveria de literatura e do conhecimento compartilhado. Se você pudesse escolher, talvez tomasse somente decisões que não apresentassem a mínima chance de erro, mas o fato é que essa possibilidade não existe, portanto, não lamente, continue caminhando.
Escolher é difícil. Escolher é dolorido. Escolher pode custar a liberdade que tanto penamos para conquistar, não apenas a liberdade financeira, mas aquela que nos permite levantar todos os dias com a certeza de que o mundo não vai nos derrubar, haja o que houver. Em caso de dúvida, siga a máxima de Bill Parcells, ex-técnico de futebol norte-americano, que fixou um cartaz na porta do vestiário por onde os jogadores New York Jets passavam: “NÃO CULPE NINGUÉM – NÃO ESPERE NADA – FAÇA ALGUMA COISA”.
Pense nisso e seja feliz!