Napoleão histórico
De acordo com Ralph Waldo Emerson, dentre as pessoas eminentes do século 19, Napoleão Bonaparte é de longe o mais conhecido e o mais poderoso. Ele deve a sua predominância à fidelidade com a qual expressou o tom de pensamento e da crença, os objetivos da massa de homens ativos e educados.
Como qualquer outra pessoa, Napoleão tinha seus vícios e virtudes e, acima de tudo, tinha o seu espírito ou objetivo. Era uma espécie de ídolo dos homens comuns porque possuía, segundo Emerson, num grau transcendente, as qualidades e os poderes dos homens comuns.
Para atingir seus objetivos e escrever o nome na história, Napoleão renunciou de uma vez por todas aos sentimentos e afetos. Servia-se apenas de suas mãos e de sua cabeça. Com ele não havia milagre nem magia alguma. Sua nada fiel companheira Josefina era apenas um adereço para preencher a lacuna exigida pela sociedade da época.
Hendrik Willem Van Loon, historiador, afirma eu seu livro que Napoleão só tinha amor por uma pessoa na vida: ele mesmo. Apesar de tudo, Napoleão era um operário do metal, do ferro, da madeira, do barro, das estradas, dos edifícios, do dinheiro e das tropas, e um mestre de obras muito consistente e sábio.
Ao todo, sua carreira não durou mais de 20 anos, porém, nesse curto período, ele moveu mais guerras, conquistou mais vitórias, sacrificou mais gente, marchou mais quilômetros, realizou mais reformas e perturbou mais o continente europeu do que qualquer outra figura histórica anterior a ele – Alexandre Magno e Gengis Khan, por exemplo.
Napoleão não era nada alto e teve a saúde debilitada na infância. Nunca impressionou ninguém por sua aparência física e até o fim de seus dias sentiu-se constrangido quando teve de se apresentar em ocasiões sociais. Durante a maior parte da sua juventude foi, aliás, muito pobre e, muitas vezes, teve de passar o dia sem comer ou foi obrigado a ganhar dinheiro de modo escuso.
Apesar de tudo, ele superou todas as dificuldades na vida por meio de sua crença absoluta e inabalável e seu próprio destino e em seu futuro glorioso. Na verdade, a ambição foi a mola mestra em sua vida. Ele entendia de negócios, conhecia as fragilidades dos seus adversários e planejava como ninguém.
A exacerbada ideia de si mesmo, o “N” maiúsculo que assinava toda a sua correspondência e todos os ornamentos e monumentos que levaram o seu nome também o levaram a conquistar a fama que poucos homens jamais conquistaram. Cada vitória era apenas uma porta em direção ao seu propósito maior e sequer por um momento ele perdeu de vista o caminho.
Segundo os historiadores, ele parece ter sido desprovido de todos os sentimentos de consideração e de bondade que tornam o homem diferente dos animais. Como afirmou o próprio Van Loon, será muito difícil saber ao certo se ele chegou a amar outra pessoa além de si mesmo.
A história está recheada da imbecilidade de reis, presidentes, ministros e imperadores em todos os cantos do mundo. Eles formam uma classe de pessoas de que se deve ter pena. A maioria não sabe o que fazer com o poder. Ao contrário da maioria, Napoleão, sabia o que fazer a cada momento e emergência.
Ele conduzia uma campanha como ninguém e, como ele mesmo dizia, não teria feito nada de bom se estive subjugado pela necessidade de me conformar às noções de outra pessoa. Ganhei algumas vantagens sobre as forças superiores, e isso quando totalmente destituído de tudo, porque, na persuasão de que a vossa confiança descansava em mim, minhas ações foram tão prontas quanto meus pensamentos.
Napoleão e algumas lições de liderança
Se você já esteve na França ou ainda pretende visitar, há de concordar comigo. A França respira Napoleão Bonaparte. Não há lugar por onde você passe e não sinta o espírito do grande general, em cada monumento erguido, construção ou ponte que você atravessa.
A despeito de todas as suas conquistas, tudo passou como a fumaça de uma artilharia, sem deixar rastros. Poucos líderes foram tão dotados e armados. Poucos encontram auxiliares e seguidores tão fiéis, dispostos a morrer pela sua causa e não pela deles.
Qual foi o resultado de tudo isso? Três milhões de soldados mortos, cidades queimadas, exércitos inteiros dizimados, uma França menor, mais pobre e mais frágil do que a encontrou. Os homens o serviram com vida, braços, pernas e bens enquanto puderam conciliar seus interesses com o dele.
Por fim, quando viram que depois da vitória havia sempre outra guerra, o desânimo tomou conta do ser humano por trás do soldado. Descobriu-se que egoísmo de Napoleão era mortífero para cada geração que nascia. A deserção foi geral. E assim Napoleão estreitou, empobreceu e absorveu o poder exilado em sua própria ambição, a milhares de quilômetros da França que tanto amou.
Para entendê-lo melhor são necessários anos de estudo. Por minha livre e espontânea vontade, e por meu próprio risco, compartilho aqui algumas lições da sua própria história de vida. Se você é um líder, reflita. Toda moeda tem dois lados e isso é imutável na história da humanidade, independentemente da época em que se vive.
- O que você sofreu na infância e na adolescência tem o lado bom e o lado ruim. Alguns utilizam as experiências negativas como alavanca para crescimento pessoal e profissional. Entretanto, há quem prefira culpar os outros.
- Toda experiência, individual ou coletiva, que tenha um objetivo baseado apenas no seu interesse particular, fracassará; você só pode mobilizar as massas (a equipe) se o interesse for mútuo.
- A ambição desmedida neutraliza a esperança da recompensa; as pessoas não se importam com a causa, desde que possam desfrutar da recompensa.
- Não há reinado nem império que resista à custa da felicidade e de vidas alheias; ninguém liga de você subir, desde que não seja com todo o seu peso nas costas alheias.
- Você pode se achar insubstituível, assim como Napoleão, mas o fato é que o mundo (e sua equipe) não vai acabar; talvez ela sobreviva bem melhor sem você.
Se você quiser saber mais da fascinante história de Napoleão, dois livros são fundamentais: Homens Representativos, de Ralph Waldo Emerson, e História da Humanidade, de Hendrik Willem Van Loon.
Ambos descrevem Napoleão de uma maneira diferente e antagônica que você não esquece jamais. Os dois são fascinantes e valem cada centavo investido. História pura.
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